Folha de S. Paulo


Maria do Carmo de Aquino (1922-2014) - Comunista perseguida na ditadura

Uma mulher simples, mas nada modesta em suas atitudes. A paraibana Maria do Carmo de Aquino era do tipo que defendia com palavras e ações as ideias em que acreditava. Estava "à frente de seu tempo", diz a família.

Seus atos levaram-na a ser perseguida pela ditadura militar. Refugiou-se em Moscou, onde passou a ter contato com Luís Carlos Prestes. Após retornar ao Brasil, ajudou na reorganização do PCB (Partido Comunista Brasileiro).

Maria do Carmo era uma comunista convicta, que decorava sua casa com referências (de quadros a bonecos) a Lênin e a Fidel Castro, entre outros. Era, aliás, uma defensora da Revolução Cubana —havia quem a chamasse de "Maria Cuba".

Nas décadas de 1950 e 60, organizou diversos sindicatos rurais na Paraíba, principalmente nas cidades de Guarabira, Sapé e Mulungu.

Com o golpe de 1964, foi considerada subversiva e denunciada. Depois de ser beneficiada com um habeas corpus, teve de deixar o país. Seu irmão, o deputado federal Osmar de Aquino, teve os direitos cassado pelo AI-5 (Ato Institucional n° 5).

Até os últimos anos de vida, quando morava na Ilha de Itamaracá (PE), Maria do Carmo militou por seus ideais —se lhe ofereciam um cigarro, sempre questionava se era de uma empresa americana.

Vez ou outra, a mulher de "cabelos brancos como neve" reproduzia, de memória, trechos do romance "A Cidade e as Serras", de Eça de Queirós.

Morreu no dia 30, aos 92, de problemas causados pela idade. Deixa as irmãs, Mercedes e Helena, e sobrinhos.

coluna.obituario@uol.com.br


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