Folha de S. Paulo


Synésio de Paula Santos (1929-2014) - De subversivo a um cidadão honorário

Em seus 85 anos de vida, Synésio de Paula Santos levou as costuras da mãe para as clientes, foi engraxate, alfabetizou adultos, teve vários negócios, realizou casamentos, envolveu-se com política (foi preso pela ditadura) e fez tantas outras atividades que não cabem neste obituário.

A repressão política a que foi submetido é o episódio que mais marcou sua vida adulta. Tachado de comunista, teve seu mandato de vereador cassado logo após o golpe de 64. A mesma Câmara de São Roque (SP), que um dia o julgou subversivo, décadas depois concedeu-lhe o título de cidadão honorário.

Na segunda vez em que foi detido, tiraram-no de casa de madrugada para 15 dias de interrogatórios. Acabou absolvido nas duas ocasiões.

Católico, afastou-se da igreja após a atuação da entidade contra o governo de João Goulart. Como um cristão preocupado com os oprimidos, porém, voltou a participar, com a mulher, Augusta, dos Cursilhos e de várias pastorais.

Trazia da infância o gosto pela leitura, apesar do pouco estudo. Na época, ao entregar as costuras da mãe em certa casa, passou a folhear um livro que ficava sobre a mesa. Apaixonou-se pelo conteúdo e começou a copiá-lo enquanto esperava o pagamento.

Tratava-se de "Magnetismo Pessoal", de Heitor Durville, obra que, em xerox comprado em um sebo do Rio, acompanhou-o por toda a vida.

Morreu no sábado (29), de complicações pulmonares. Deixa Augusta, sua companheira havia 61 anos, os filhos, Glauco, Gladston e Gislaine, cinco netos e a irmã Dirce.

A missa do sétimo dia será amanhã (6/12), às 19h, na igreja Matriz de São Roque.

coluna.obituario@uol.com.br


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