Folha de S. Paulo


Vereador de CPI omitiu R$ 6 mi à Justiça Eleitoral

Integrante da suspeita CPI dos Alvarás na cidade de São Paulo, o vereador Adilson Amadeu (PTB) omitiu à Justiça Eleitoral neste ano ao menos R$ 6 milhões em imóveis.

Em sua declaração de bens, quando indicou que disputaria uma vaga na Assembleia Legislativa, o vereador informou ter oito imóveis que, juntos, atingiam um valor de R$ 275 mil. Fora dessa lista, porém, a Folha encontrou outros quatro imóveis.

O petebista foi o responsável pela indicação, para trabalhar na CPI, de um funcionário agora suspeito de cobrar propina de empresários.

Editoria de Arte/Folhapress

Esse funcionário, o engenheiro Roberto de Faria Torres, apareceu em um vídeo divulgado pelo "Fantástico" no qual pede R$ 15 mil para elaborar um laudo que tiraria um bar da lista de investigados da comissão, criada na Câmara para verificar a situação de locais com capacidade para mais de 250 pessoas.

Após a reportagem da TV Globo, a Folha revelou que esse engenheiro indicado pelo vereador adquiriu 19 imóveis nos últimos cinco anos –entre eles uma mansão com 23 cômodos no interior paulista. Agora o funcionário é investigado pela Controladoria do Município por suspeita de enriquecimento ilícito.

LISTA DE OMISSÕES

Campeão de participação em CPIs nos últimos dez anos, quando atuou em 9 de 22 comissões, o vereador do PTB tem atualmente patrimônio próximo a R$ 10 milhões apenas em imóveis. Esse valor inclui os imóveis não declarados e a atualização de valores dos declarados.

Entre os omitidos à Justiça Eleitoral, está um prédio cujo valor venal de referência é de R$ 2,8 milhões. Trata-se de um imóvel onde funciona uma rede de fast food, em frente ao terminal de ônibus de Santana, na zona norte.

Outra transação não declarada de Amadeu é a compra, por R$ 560 mil, em 2012, de dois terços de um imóvel onde funciona uma escola, na região da Brasilândia, também na zona norte.

Essa construção é avaliada em R$ 1,4 milhão, segundo estimativa da prefeitura.

Amadeu é proprietário de uma empresa despachante, a Sodesp. Só o imóvel da empresa, que também não está entre os declarados, é avaliado em R$ 1,9 milhão.

Os valores que o vereador paulistano estima para os imóveis em sua declaração à Justiça Eleitoral também apresentam valores distantes dos de referência da prefeitura.

Por exemplo: um apartamento nos Jardins (zona oeste) declarado por R$ 115 mil vale, atualmente, ao menos R$ 1,1 milhão.

Entre declarados e não declarados, a Folha detectou ao menos 13 imóveis no nome de Amadeu, entre apartamentos, terrenos e casas de praia. A maioria foi comprada antes do primeiro mandato como vereador, em 2004.

Procurado pela reportagem, o vereador disse que o patrimônio não declarado à Justiça faz parte de um acordo de separação com sua ex-mulher (leia texto na pág. C3).

Segundo o advogado Alberto Luís Rollo, especialista em direito administrativo, a omissão de bens na declaração à Justiça Eleitoral, como no caso de Amadeu, é ilegal.

"A declaração tem que refletir a vida jurídica do candidato", afirma o advogado.

Outros especialistas consultados afirmam, porém, que essa ilegalidade na declaração só teria consequências –como anular a candidatura, por exemplo– se o fato tivesse vindo à tona na época das eleições.


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