Folha de S. Paulo


Cooperativa dá oportunidade de trabalho a preso e a ex-detento

"Às vezes vem gente aqui com um currículo bonito e eu digo: 'Não leve a mal, mas você não tem o nosso perfil'." Fernando de Figueiredo, 45, se refere com orgulho à cooperativa de reciclagem de madeira Sonho de Liberdade, criada por ele em 2005 com outros presos da época em que cumpriu pena no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.

A entidade, com cerca de 100 membros, tem 30 presidiários que cumprem pena em regime aberto, 15 ex-detentos e outras pessoas normalmente rejeitadas em empresas -"alcoólatras, mendigos, andarilhos, prostitutas", diz Figueiredo.

Pedro Ladeira/Folhapress
Luiz Antônio Carneiro, 49, trabalha em cooperativa de Brasília durante o dia e dorme na prisão
Luiz Antônio Carneiro, 49, trabalha em cooperativa de Brasília durante o dia e dorme na prisão

Em 2013, a cooperativa ofereceu cartas de emprego a José Dirceu, a José Genoino e a Delúbio Soares, condenados no mensalão. O salário era inferior ao mínimo. Não houve resposta ao convite.

A cooperativa surgiu num terreno próximo ao Lixão da Estrutural, em Brasília, onde Figueiredo e outros ex-presos se juntaram aos catadores que vivem há décadas na região.

"Muitas vezes pedimos para o motorista de um caminhão do Carrefour ou do Walmart desviar a rota. Em vez de ir para o lixão, a gente pedia para ele jogar aqui para termos algo para comer."

A entidade se especializou no reaproveitamento da madeira e trabalha com outras cooperativas que reciclam plástico, papelão e latinhas.

Cerca de 1.500 toneladas de madeira passam pela Sonho de Liberdade todos os meses. Uma parte do material é reaproveitado na construção civil e outra é triturada e vendida a indústrias como Bunge e Cargill para servir como combustível em caldeiras.

A cooperativa tem atualmente um faturamento de mais de R$ 1 milhão por ano, o que dá a cada cooperado uma renda mensal de R$ 1.000. "Graças a Deus podemos ir ao mercado, escolher o que comer e ter do bom e do melhor", orgulha-se Figueiredo.

Leia mais: Sem emprego, ex-detento de Brasília criou com antigos colegas de prisão cooperativa que fatura mais de R$ 1 milhão


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