Uma escola no "triângulo da morte" de São Paulo -Jardim Ângela, Jardim São Luís e Capão Redondo- se destaca na paisagem. De portões sempre abertos, com um pátio arborizado, o Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos do Campo Limpo é um refúgio para pessoas com deficiência (há 282), jovens infratores (20 deles) e para adultos que queiram estudar. A aluna mais velha, recém-alfabetizada, tem 92 anos.
A diretora Êda Luiz, 66, estabeleceu que a palavra-chave ali é acolhimento. "Escola só dá certo se lida com os problemas ao redor", diz. O ambiente é permeável à comunidade: vizinhos entram e saem da escola a todo momento, inclusive para comer. Moradores de rua e dependentes de drogas são recebidos no refeitório da mesma maneira que os alunos, funcionários e professores.
| Zanone Fraissat/Folhapress | ||
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| A diretora Êda Luiz em sua escola, que funciona de portas abertas em pleno 'triângulo da morte' de SP |
Ânderson Odorico, 24, entregava drogas, nunca tinha pisado num colégio nem feito uma refeição sentado em uma mesa até entrar no Cieja há quatro anos. Êda deu-lhe um emprego na escola e abrigou, por uma semana, seus três irmãos em sua casa. "Tem gente que vai julgar nosso envolvimento. Mas só funciona assim. Já tentei ajudar de outro jeito, mas o buraco é mais embaixo", diz.
Ânderson continua na escola, sabe ler bem, mas tropeça ao escrever. Não usou mais drogas, exceto uma "ramelada com maconha".
Cerca de 40% dos jovens que vêm da Fundação Casa desistem de frequentar o Cieja. "Estamos concorrendo com um mundo violento, no qual ganhar dinheiro é muito fácil", diz Êda Luís.
Para todos os alunos, é feita a mesma pergunta: "Qual o seu sonho?". De início, muitos dizem "nenhum". "Meses depois, aparecem sabendo o que querem", conta Êda.
A meta de Ânderson é virar um bom mecânico, ter uma casa e cuidar dos irmãos. "Quero muita coisa", sonha.