Folha de S. Paulo


Vida saudável deve dar bônus em plano, diz Drauzio em livro

O médico e colunista da Folha Drauzio Varella emprestou do filósofo inglês Thomas Hobbes a expressão que usa para descrever o sistema de planos de saúde no Brasil: uma guerra de todos contra todos.

Foi a partir de conversas sobre o tema com o colega Maurício Ceschin, ex-diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar, que surgiu "A Saúde dos Planos de Saúde" (ed. Paralela), livro lançado nesta segunda (24) em São Paulo que diagnostica entraves do sistema atual e sugere soluções.

Segundo Drauzio, o usuário fica contra o plano porque paga caro e tem dificuldades no atendimento. E fica contra o médico porque a consulta é rápida demais.

O médico está contra o plano porque recebe mal, e contra o usuário porque não cria vínculo com ele. E o plano, contra os usuários porque eles entram na Justiça para obter tratamentos que não estavam no contrato. E contra os médicos porque prescrevem exames demais, aumentando os custos.

Some-se a isso a baixa margem de lucro das operadoras de seguro (de 2% a 3%) e o envelhecimento da população brasileira e está prescrita a tragédia. "Um sistema assim não pode dar certo."

"Falta noção de economia à medicina. As faculdades não ensinam valores de procedimentos e medicamentos", avalia. "Os médicos não tem noção dos custos envolvidos na própria medicina."

Os pacientes, por outro lado, tendem a achar que são mais bem atendidos quanto mais exames lhes receitam.
"Não é verdade. E exames não são inócuos", diz. "Uma tomografia desnecessária, por exemplo, prejudica o paciente porque o expõe a radiação, que oferece riscos, e sobrecarrega seus rins por causa do contraste", explica.

Para ele, a livre demanda por consultas e exames não é boa para ninguém.

"É como consumo de água em prédio: seu vizinho toma cinco banhos por dia e você toma um, mas a conta é dividida igualmente." O resultado, no caso dos planos, é uma mensalidade mais alta.

A Saúde dos Planos de Saúde
Drauzio Varella e Mauricio Ceschin
livro
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Duas medidas impopulares, segundo Drauzio, podem ajudar na questão. A primeira é a coparticipação do paciente no pagamento de consultas e exames, que funcionaria como freio de exageros.

A segunda é atribuir ao cidadão parte da responsabilidade por sua saúde, premiando o paciente que tem um estilo de vida saudável.

"Em algum momento faremos como os seguros de carro: desconto para quem não fuma, por exemplo, porque fumante gasta mais, vive menos e tem mil problemas de saúde por causa do cigarro."

A solução sugerida pelo médico, como seu diagnóstico, vem de Hobbes: ampla discussão e novo contrato.

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Lançamento de 'A SAÚDE DOS PLANOS DE SAÚDE'
Quando Segunda (24), às 18h30
Onde Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio Libanês (Rua Dona Adma Jafet, 91, São Paulo)


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