Folha de S. Paulo


Agora, polícia diz não saber data e local de abuso em colégio em SP

O delegado responsável pela investigação que levou à prisão de um ex-monitor de um colégio de Barueri, na Grande São Paulo, acusado de abusar de três crianças de três anos dentro da escola, afirma agora que a polícia não sabe a data, o local exato nem como se deu o suposto crime.

Isso porque, segundo o delegado Alexandre Palermo, do 2º DP de Barueri, "estamos falando de meninas de três anos, que não têm capacidade de precisar os eventos no tempo e no espaço".

As declarações, concedidas à página "Reclamômetro de Alphaville", numa rede social, contradizem o inquérito assinado pelo próprio policial e a denúncia oferecida pela Promotoria à Justiça -que dão data e local para o crime.

editoria de arte/folhapress
Escola base
Escola base

Ex-funcionário do colégio Mackenzie Tamboré, Antônio Bosco de Assis, 44, está preso desde 8 de maio acusado de tocar as partes íntimas de três meninas de três anos.

Como a Folha noticiou na terça (18), o réu está preso com base nos relatos das crianças. A única prova técnica encontrada no processo é um laudo de uma psicóloga que entrevistou as meninas em agosto e concluiu pela "hipótese da possibilidade" do abuso.

Para o advogado dos pais de uma das meninas, o conjunto de provas contra Antônio é robusto. As principais são o laudo psicológico e o reconhecimento do réu pelas vítimas, que demonstraram o que ele teria feito com elas.

A defesa declara inocência de Antônio e diz que as meninas, ao se referirem a ele "como sendo o tio malvado", podem ter confundido realidade e fantasia: o ex-monitor apresentara, dias antes, uma peça na escola em que fez o papel de um garoto malvado.

Pela denúncia do Ministério Público, baseada no inquérito policial, o abuso das três meninas ocorreu no dia 22 de abril em uma sala do prédio da educação física.

Desde sexta-feira (14), a Folha envia pedidos de informações ao delegado. Na noite de terça (18), Palermo respondeu ao "Reclamômetro de Alphaville" as questões publicadas pela Folha na terça (18).

'PROBLEMAS'

"Enfrentamos vários problemas, inclusive o fato de não sabermos exatamente quando os fatos ocorreram, se ocorreram em um só ou em vários momentos, e em que local exatamente", disse, sobre a ausência no processo de imagens das câmeras da escola. Há apenas uma foto da sala em que teria havido o abuso.

Palermo disse ainda que a polícia não sabe se as crianças foram tocadas ao mesmo tempo ou separadamente. Mas a apuração sobre duas delas só ocorreu porque a primeira teria dito aos pais que as colegas também haviam sido molestadas -o que ela só poderia saber se todas estivessem juntas.

Palermo, o promotor Eduardo Querobim e a juíza Cyntia Straforini não comentaram o processo, alegando sigilo.

Segundo a advogada criminalista Camila Motta de Souza, a definição da data e do local de um crime em uma denúncia, conforme estabelece o Código de Processo Penal, é importante para dar ao réu a chance de se defender.

"Como é que a pessoa poderá ter um álibi?", explica.

Ainda segundo ela, pode-se apurar um crime em local incerto com data aproximada, mas isso tem de estar expresso na denúncia do Ministério Público à Justiça.


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