Folha de S. Paulo


Chuvas amenizam espera por água em Itu, mas torneiras continuam secas

A aposentada Luzia Gonçalves, 59, dispensou, nesta terça (18), o caminhão-pipa que oferecia abastecimento para sua casa.

Com a água que sai das torneiras há três dias, a moradora do bairro Vila Leis, em Itu (a 101 km de São Paulo), conseguiu encher os dois tanques de mil litros que utiliza nos dias em que o racionamento atinge sua rua.

Já Roseli Herculano, 38, proprietária de uma padaria no bairro São Judas, não teve a mesma sorte. Ela está sem água desde as 8h de terça e só espera a volta "por algumas horas" na madrugada de quinta-feira (20).

Cidade-símbolo da estiagem no Estado, Itu sofre com a falta de água desde setembro de 2013, segundo moradores, e está em racionamento oficial desde fevereiro.

Até o início do mês, diversos bairros ficaram sem abastecimento por mais de uma semana, embora a distribuição tivesse de ser feita durante dez horas a cada dois dias.

A situação amenizou em 4 de novembro, após uma forte chuva de 40 mm, o equivalente a quase um terço da média histórica para o mês -de 125,9 mm, segundo a concessionária Águas de Itu.

O temporal melhorou a distribuição de água, reduziu as filas em frente à bica da Vila Santa Terezinha -que se estendiam pela madrugada- e fez a concessionária retirar as 12 caixas-d'água gigantes que havia espalhado pela cidade.

Na semana passada, um estudo de uma ONG da cidade apontou que a água desses reservatórios era imprópria para consumo, o que a concessionária negou.

"Agora tem chegado água lá em casa todo dia", afirmou o operário Dirceu Gomes, 43, morador da Vila São José.

Ele era uma das cinco pessoas que enchiam garrafas na bica pela manhã. "Mas só estou fazendo isso porque acho a qualidade da água aqui melhor", acrescentou.

Apesar do alívio, os moradores têm estocado água à espera de mais períodos difíceis. Os reservatórios da cidade operam, hoje, com menos da metade da capacidade.

"E aqui a gente não tem volume morto", brincou o técnico ambiental Reginaldo Santos, funcionário da Águas de Itu, comparando o sistema da cidade à reserva técnica do Cantareira, que fornece água à Grande São Paulo.

Em alguns casos, como na bacia do Gomes, que abastece 20% de Itu, o nível da água está em 8% do total. A concessionária não informou o nível das demais represas que servem a cidade.

RESERVA PREVENTIVA

"Tenho baldes e bacias na casa toda. Eu guardei a água da chuva para lavar o quintal, usar no banheiro e até para tomar banho", conta o pedreiro Carlos Alberto da Silva, morador do São Judas.

A professora Aline Almeida, 30, que pregou cartazes com os dizeres "Itu pede socorro" na porta e nas paredes de casa, diz que guarda água porque já ficou "sem ter com o que escovar os dentes".

A demanda diária da cidade de 165 mil habitantes é de 700 litros por segundo, de acordo com a prefeitura, mas a oferta atual é de apenas 180 litros por segundo.

A expectativa é que, com a entrega de uma adutora no rio Mombaça, prevista para janeiro, mais 280 litros de água por segundo sejam injetados no sistema.


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