Folha de S. Paulo


Após relatos de abusos, medicina da USP estuda barrar bebidas em festas

A Faculdade de Medicina da USP estuda vetar bebidas alcoólicas nas festas de recepção de calouros na instituição.

Segundo a Folha apurou, a medida é uma das sugestões a serem deliberadas em reunião neste mês como tentativa de coibir os frequentes relatos de abuso de álcool –e até mesmo estupros– em festas dentro da faculdade. A medida de restringir as bebidas, no entanto, só vale para as festas que acontecem no início do ano letivo, ou seja, na recepção dos novos alunos.

Outras ações já anunciadas são ampliar a vigilância e criar um centro de direitos humanos para investigar e punir casos de violência.

Segundo a faculdade, o novo centro dará assistência jurídica, psicológica e de saúde para as vítimas, além de funcionar como uma ouvidoria. A previsão é que o órgão comece a atuar em 40 dias.

A medida ocorre um dia depois de alunas de medicina relatarem, em audiência pública na Assembleia Legislativa, terem sido vítimas de estupro em festas promovidas pela Atlética da unidade.

Em depoimento, as jovens disseram que sofreram pressão para que não denunciassem os casos e que ficaram estigmatizadas na faculdade. Também afirmaram que os agressores estão impunes.

A promotora Paula Figueiredo Silva instaurou um inquérito civil para apurar os casos. "Há uma omissão da diretoria e não há qualquer suporte às vítimas. Os casos são abafados para não prejudicar a imagem da faculdade", diz.

Além das denúncias de violência sexual, o Ministério Público também investiga suspeitas de racismo, homofobia e agressões em trotes. Segundo a promotora, os calouros são coagidos a beber nas festas. "Em uma das
festas, o novato bebeu tanto e mesmo desacordado era forçado a beber mais. Ele caiu e teve traumatismo craniano. Infelizmente, não são fatos isolados."

Professores também querem tornar permanente uma comissão criada para apurar os casos e que foi encerrada em outubro. "Estamos acostumados a tratar as pessoas. Agora, nós é que estamos doentes", diz Paulo Saldiva, presidente da comissão.

A Faculdade de Medicina informou se opor a qualquer "forma de violência e discriminação e que tem se empenhado em aprimorar seus mecanismos de prevenção".


Endereço da página: