Folha de S. Paulo


Anézia Moreira da Silveira (1913-2014) - 78 anos de histórias na centenária casa rosada

Da varanda de uma centenária casa rosada no centro de Florianópolis, a também centenária Anézia Moreira da Silveira acompanhou as mudanças da capital catarinense nos últimos 78 anos.

Quando se mudou para a atual esquina da avenida Prof. Othon Gama d'Eça com a rua Bocaiuva, após o casamento com João —realizado ali mesmo—, a moradia era uma chácara de frente para o mar.

O terreno acabou cortado pela avenida, e as casinhas vizinhas deram lugar a enormes prédios. A sua foi uma das pouquíssimas que resistiram à especulação imobiliária.

Nos últimos tempos, um ou outro estudante de um colégio próximo ainda acenava quando ela espiava pela janela ou sentava-se à varanda.

Antigamente, orgulhava-se de conhecer os vizinhos, companheiros de fogueiras de São João. Ensinou mulheres a costurar e até assava bolos e pães para aquelas que não tinham forno à lenha.

Às vezes, enchia uma cesta com as gostosuras que preparava e levava para um piquenique com os filhos e sobrinhos na praia logo em frente. Hoje, ninguém mais pode se banhar na beira-mar.

Para a família e amigos, foi ainda médica, assistente social, psicóloga -"A vida é como é, não como a gente quer", dizia aos inconsolados.

Desde que ficou viúva, em 1998, visitava religiosamente aos sábados o túmulo do marido, para levar flores frescas de que ele tanto gostava.

Morreu na segunda (20), aos 101 anos. Deixa cinco filhos, dez netos e sete bisnetos. A missa do sétimo dia será às 19h30 de hoje (27/10), na igreja de Sta. Catarina de Alexandria (colégio Catarinense).

coluna.obituario@uol.com.br


Endereço da página:

Links no texto: