Folha de S. Paulo


Evitar comércio de droga por sites não é prioridade, diz PF

A dificuldade para identificar cartas com drogas e a falta de um acompanhamento sistemático desse comércio na internet facilitam a vida dos usuários que importam substâncias de outros países.

Elas podem ser sintéticas –como LSD, ecstasy e dezenas de drogas novas ainda não proibidas pela Anvisa–, maconha e haxixe. Casos de tráfico internacional cabem à Polícia Federal.

"O LSD é muito difícil de fiscalizar, porque é uma cartelinha [de papel]. É impossível, tem que abrir a carta. Muitas vezes a gente apreende comprimidos, suspeitos de serem ecstasy, e não são", diz o delegado da PF Rodrigo Levin, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes, em SP.

"Não fazemos um trabalho preventivo de ver quem vai comprar [maconha em sites]. Pegaria bastante [gente], mas, pela benesse da lei brasileira em relação à maconha, a punição vai ser uma advertência por tentativa de uso."

"[Logo,] Não temos como colocar nossas forças para apurar esses casos. Nós acabamos voltando nossas ações para [pegar] traficantes", diz.

O foco da PF, no que diz respeito ao tráfico por correio, é a exportação de cocaína por correspondência –atividade dominada por quadrilhas de nigerianos que vivem no Brasil, segundo Levin. "Nesses casos, sim, investigamos os traficantes, não os usuários."

São Paulo é a principal porta de saída de cocaína por correio, que é enviada para Europa, Ásia e África. Nesse caso, o comércio não é feito pela internet, mas por uma rede de contatos que as quadrilhas nigerianas mantêm nos países.

Todas as cartas contendo drogas de outros países passam por uma central dos Correios na zona oeste de SP.

Sementes de maconha, geralmente vindas da Holanda, são as que mais chegam ao país, segundo a PF –sempre em quantidade pequena, de até 30 sementes por carta.

São compradas com cartão de crédito em sites de empresas holandesas –onde esse comércio é legal–, que contratam brasileiros para escrever as páginas em português.

Em 2013, foram apreendidas 2.030 correspondências com sementes de maconha –uma média de mais de cinco por dia. Até outubro deste ano, houve 607 apreensões.

Essas cartas são geralmente identificadas "pelo tato". "Funcionários da Receita Federal, que não são muitos, um ou dois, ficam no raio X dos Correios. Eles usam de tática de inteligência, [porque] não passa tudo pelo raio X", afirma o delegado da PF.

Levin diz acreditar que as apreensões caíram neste ano porque, como muitos compradores foram intimados a depor, a informação de que existe fiscalização espalhou-se, inibindo novas compras.

O número de cartas apreendidas com LSD foi de 4, em 2013, para 2, até outubro. E o de correspondências com ecstasy, de 89 para 25. O delegado diz que houve "poucas" apreensões.

Em São Paulo, a Polícia Civil –responsável por tráfico interestadual– informou ter aberto três inquéritos para investigar sites que vendiam drogas, mas que não entregaram a substância, o que configurou estelionato.


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