Folha de S. Paulo


Seca vira tema de excursão e aula de ciência em escolas

"Meu filho lava a louça comigo: fica do lado, desligando a torneira", uma mãe desabafa. "Está aquela neura."

Ela participava de debate realizado por pais de alunos da escola Vera Cruz, na zona oeste de São Paulo, na última terça-feira (21), sobre a crise da água no Estado.

O colégio cancelou uma exposição sobre o recurso –achou que o tom de celebração não seria apropriado– e programou uma excursão a Extrema (MG), cidade que adota modelo sustentável de preservação de mananciais do sistema Cantareira.

Como no Vera Cruz, a crise da água tem motivado atividades em diversos colégios da cidade. Na rede municipal, 34 escolas ficaram sem água na semana passada.

A Secretaria de Educação diz que incentiva debates sobre o tema e sua inclusão em projetos interdisciplinares.

Avener Prado/Folhapress
Isabella Avila, 12, aluna do Bandeirantes, pesquisou tinta que não deixa sujeira se fixar
Isabella Avila, 12, aluna do Bandeirantes, pesquisou tinta que não deixa sujeira se fixar

Nas escolas particulares, problemas de abastecimento não são comuns. A falta de água é abordada para efeito pedagógico –como no colégio Rio Branco, que tem promovido bate-papos e estudos.

O Porto Seguro fez uma apresentação interativa sobre as propriedades da água e formas de economizá-la.

O Dante Alighieri disse que tem vistoriado equipamentos para evitar desperdícios.

carro limpo sem água

No colégio Bandeirantes, na Vila Mariana, a palestra de um professor da USP despertou Isabella Avila, 12, estudante do sétimo ano.

Lendo jornal, ela descobriu que uma fabricante de automóveis testava uma espécie de tinta que não deixa a sujeira grudar no carro.

"Pesquisei na internet que 10 minutos de lavagem gastam 378 litros de água. Imagina lavar 7 milhões de carros, que é a frota de São Paulo?", diz Isabella, com os números na ponta da língua.

Ela formou um grupo e apresentou um estudo sobre o material durante a feira de ciências da escola, realizada na semana passada.

Isabella foi atrás do fornecedor do material, importado dos Estados Unidos. Com ajuda da mãe, comprou uma quantidade da tinta para testar no seu tênis velho, "que era branco e precisava lavar o tempo todo". Funcionou. A sujeira não se fixa mais, diz.

A professora ensinou a nanotecnologia empregada na produção do material e seus diferentes usos. "Ficamos muito orgulhosos", disse a coordenadora do colégio, Cristiana Assumpção. Ela se disse surpresa com o engajamento dos alunos: "Nunca tinha visto nesse nível antes".

A Secretaria Estadual de Educação diz que capacita educadores para que promovam atividades em sala.


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