Folha de S. Paulo


Médico preso por abortos ilegais é suspeito de subornar policial

Em 60 anos de profissão, o médico ginecologista Aloísio Soares Guimarães, 88, já foi detido cinco vezes. Todas por praticar aborto ilegal.

A última, no dia 14 passado, na operação Herodes, foi acusado pelo Ministério Público estadual de ser um dos chefes de uma quadrilha responsável por fazer abortos em nove clínicas do Rio.

A investigação apontou que o grupo chegava a cobrar até R$ 7.500 por procedimento.

Guimarães seria o responsável pelo polo de Copacabana, considerado o mais rentável da quadrilha pela polícia. Em maio de 2013, o lucro da clínica chegou a R$ 300 mil.

"Ele é um médico, ginecologista, e nunca foi condenado por essas suspeitas", afirma seu advogado, Alexandre Lopes Oliveira.

Segundo policiais, Guimarães formou uma rede de advogados e policiais para se livrar de qualquer ação. A vigilância começava pelos porteiros do prédio do consultório. Eles recebiam dinheiro para avisar caso vissem alguma movimentação policial.

Ele atendia uma mulher por vez. As outras ficavam próximas ao prédio e recebiam telefonemas para subir.

Segundo a Corregedoria da Polícia Civil, Guimarães gastava cerca de R$ 20 mil por mês em propinas para policiais civis e militares.

Em interceptação telefônica, autorizada judicialmente, ele fala ao neto, identificado como Ricardo: "Porque R$ 20 mil para mim é nada".

Na manhã de 26 de julho de 2013, católicos se dirigiam à praia de Copacabana, que receberia o papa Francisco, na Jornada Mundial da Juventude. A dois quilômetros dali, na rua Figueiredo Magalhães, policiais civis esperavam diante do prédio 219 um casal chegar para a consulta.

Os agentes acompanharam o casal até o quinto andar, sala 507, onde encontraram duas portas de aço trancadas. Lá dentro, Guimarães aguardou duas horas a chegada de seu advogado até ser preso.

NO MESMO LOCAL

Formado em 1952 pela Faculdade Nacional de Medicina, o médico inaugurou em 1959 o consultório da Figueiredo Magalhães. Em 1962, foi preso pela primeira vez.

Foi detido mais quatro vezes, incluindo a da semana passada. São cinco décadas praticando abortos, segundo policiais que o investigaram.

Nos anos 1990, a Vigilância Sanitária encontrou irregularidades no local como a reutilização de seringas e de luvas, e remédios vencidos.

O Cremerj chegou a abrir uma apuração, mas ele foi inocentado por "jamais estar envolvido em qualquer ocorrência policial". Na época, ele já havia sido preso duas vezes.

Em seu apartamento no Leblon, a polícia encontrou R$ 432 mil e um documento indicando ter uma conta na Suíça. Outro documento trazia um depósito de US$ 5 milhões.

Em julho de 2013, um policial o avisou sobre a ida da polícia ao consultório a qualquer momento. "Tirei tudo de lá e estou esperando eles chegarem. Abro a porta e mostro: não tem nada", disse na ocasião em conversa telefônica.

Na mesma ligação, o médico refletiu sobre o aborto: "Hoje tem tanta mulher que precisa. É um problema, né?! É crise na saúde pública. Eu é que sei", afirmou em 13 de julho de 2013.

OUTRO LADO

Alexandre Lopes Oliveira, advogado do médico Aloisio Soares Guimarães, deu entrada com um pedido de revogação da prisão preventiva.

"O doutor Aloisio é um cardiopata e acabou de sair de uma cirurgia de câncer de próstata". Tem a saúde debilitada", disse Oliveira.

O Cremerj diz que "por questões legais, está impedido de divulgar processos ético-profissionais". E que já abriu sindicância para investigar o envolvimento de médicos. Outros nove profissionais respondem à acusação de integrar a quadrilha. Três ainda estão foragidos.


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