Folha de S. Paulo


Protesto de estudantes impede debate sobre UPPs em universidade do Rio

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou, nesta quinta (16), uma nota de repúdio, pela manifestação organizada por estudantes do Centro Acadêmico de História da Uerj (Universidade Estadual do Rio) que, na terça (14), interrompeu um debate sobre UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora) na universidade.

No local também seria lançado o livro "Donos do Morro - Uma avaliação provisória do impacto da UPP", dos pesquisadores Dorian Borges, Eduardo Ribeiro e Ignacio Cano. Os dois eventos foram cancelados.

Já com os convidados do debate em seus lugares, entre eles, o atual comandante das UPPs, o coronel Frederico Caldas e o seu antecessor, o coronel Robson Rodrigues, cerca de 80 estudantes entraram no auditório com faixas e cartazes. A ação surpreendeu as pessoas que foram assistir ao evento, como também, representantes de ONGs e de comunidades com UPPs, que também estavam à mesa.

Nos cartazes era possível ler inscrições como "UPP Assassina" e músicas como "Fora UPP, matou a Cláudia, o Amarildo e o DG", numa referência à vítimas, moradores de favelas, em ações da Polícia Militar do Rio neste último ano e meio.

Cláudia Silva Ferreira, 38, foi baleada, em março deste ano, em uma troca de tiros em Madureira, zona norte do Rio, entre policiais do 9º BPM (Rocha Miranda) e traficantes. Colocada no carro policial, a capota abriu e seu corpo ficou pendurado batendo no asfalto enquanto o veículo estava em movimento. Os PMs só pararam quando alertados pelas pessoas na rua. Não há nenhuma relação do caso com as UPPs.

O ajudante de pedreiro Amarildo de Souza desapareceu em julho do ano passado após ser detido por policiais da UPP da Rocinha, zona sul do Rio. Há policiais presos pelo crime e o corpo do pedreiro não apareceu até hoje.

Já em abril deste ano, o dançarino do programa Esquenta da TV Globo Douglas Rafael Pereira, 26, conhecido como DG, foi baleado no alto do morro do Pavão-Pavãozinho, na zona sul da cidade. O local possui uma UPP.

Além de lembrar os três personagens, os estudantes pareciam estar de volta às manifestações de junho de 2013: "A verdade é dura. A UPP também é ditadura". Junto com as músicas teve início um apitaço e uma série de xingamentos contra os PMs presentes ao evento. Essa foi a deixa para que os convidados se levantassem e deixassem o local.

"O que me espanta é a burrice dos estudantes. Me sinto fracassado como professor. Estamos criando pessoas que não acreditam no debate e no conhecimento. Foi anti-democrático, ilegal e burro", disse o pesquisador Ignacio Cano, em entrevista à rádio CBN, na manhã desta quinta (16).

Em sua nota, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, chamou os estudantes de autoritários e lamentou a manifestação: "É inadmissível, moral e eticamente, que grupos autoritários decidam o que pode ou não pode ser debatido na Universidade e/ou quem pode ou não participar dos debates. Esse não é um caso isolado e é preciso denunciar essa postura, que tem ganhado corpo nas Universidades. Há um enorme preconceito em relação aos policiais brasileiros e há, nesse movimento, uma tendência de afastamento entre polícia, sociedade e universidade que não podemos aceitar".

O coronel Frederico Caldas não quis comentar o episódio. O coronel Robson Rodrigues não foi encontrado para comentar o caso.

A Folha procurou, por email, os representantes da direção do Cahis-Uerj, mas não obteve retorno até o momento.


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