Folha de S. Paulo


Aos gritos de 'assassino', polícia de GO apresenta suspeito de crimes em série

Alan Marques/Folhapress
O vigilante Thiago Henrique Gomes da Rocha, 26, foi apresentado pela Polícia Civil do Estado na manhã desta quinta-feira (16)
O vigilante Thiago Henrique Gomes da Rocha, 26, foi apresentado pela Polícia Civil do Estado na manhã desta quinta-feira (16)

Aos gritos de "assassino", "covarde" e "desgraçado", o homem que, segundo a polícia, confessou o assassinato de 39 pessoas –incluindo os crimes em série de mulheres ocorridos este ano– foi apresentado pela Polícia Civil na manhã desta quinta-feira (16) em Goiânia.

O vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha, 26, permaneceu no auditório da SSP (Secretaria de Segurança Pública) por apenas 30 segundos, tempo suficiente para familiares de mulheres mortas na cidade neste ano xingarem o suspeito sem parar.

Os gritos rivalizavam com os flashes de celulares de moradores da cidade que estavam no local e de fotógrafos profissionais. O clima era de muita comoção.

"Eu não pensei que teria essa reação, mas não me contive e precisei gritar 'assassino'. Ele acabou com a minha vida", disse a empresária Rosana Mesquita e Silva, 43, mãe de Lilian Sissi Mesquita e Silva, morta em fevereiro.

Christielly Oliveira, 23, prima de Bruna Gleycielle, assassinada em maio, aos 27 anos, chorava sem parar após a apresentação do suposto assassino. "Sinto ódio, sinto raiva, e ao mesmo tempo sinto dó dele. Não sei o que pensar. Toda a cena da morte volta à nossa cabeça", afirmou.

Na saída, ao ser colocado no carro da polícia, novos gritos de "assassino" foram ouvidos. Rocha foi escoltado por policiais encapuzados e fortemente armados.

Segundo a polícia, ele confessou os homicídios, mas a defesa dele nega os crimes. O advogado afirma que o vigilante ficou com medo durante o interrogatório e, por causa disso, assumiu os assassinatos.

Das 39 mortes que Rocha confessou, segundo a polícia, 15 são de mulheres mortas em Goiânia neste ano e de um homem. Todos esses crimes estão sendo investigados por uma força tarefa montada em agosto pela Polícia Civil do Estado.

Em entrevista à imprensa nesta quinta, a polícia informou ter comprovado que os tiros que atingiram seis dessas vítimas partiram da pistola apreendida com Rocha.

"Uma só pessoa provocou a morte de várias pessoas desmotivadamente, por problemas de personalidade dele. Ele não tem motivo nem conhecia a pessoa", afirmou o superintendente da Polícia Judiciária, delegado Deusny Aparecido Silva Filho.

O delegado disse, porém, que caberá a médicos psiquiatras dizer se o suspeito é um "serial killer".

Segundo ele, há evidências de que Rocha tenha começado a matar em 2011. "Começou com homens, ele fala até de travestis, mas não sei quem seriam. Teria passado para morador de rua e depois para mulheres. Mas entre um e outro é claro que ele matava outras pessoas", afirma Silva Filho. Ele citou como exemplo o caso do fotógrafo Mauro Ferreira Nunes, morto em 28 de março, que era investigado pela força-tarefa.

A INVESTIGAÇÃO

O suspeito disse, ainda segundo o delegado, que precisava matar para acalmar a raiva que sentia.

A Polícia Civil trabalha agora para encontrar indícios que possam ser confrontados com as declarações dele para confirmar se ele é mesmo o autor dos 39 homicídios.

A força tarefa continuará até que as investigações sejam concluídas. O grupo começou o trabalho com cerca de 70 homens, que depois passou a 150 pessoas, sendo 25 delegados, 95 agentes e 30 escrivães.

Segundo o delegado, há cerca de 30 dias a polícia já tinha todas as características do suspeito e da motocicleta usada nos crimes. "Temos filmagens, laudos que comprovariam a altura [do suspeito] na cena de crime. Tudo questão técnica", disse. A Justiça, então, expediu dois mandados de prisão em busca "do alvo" certo.

"Quando ele foi preso já sabíamos que era o alvo, aí não tinha como negar. A prisão foi a coroação de 70 dias de investigação", afirmou o delegado.

"Não foi do dia para a noite que chegamos a esse elemento. Não tínhamos o nome, a qualificação e só. Mas já tínhamos tudo dele", disse o delegado. Ele criticou a imprensa por relatar a coincidência entre a prisão do suspeito e a proximidade do segundo turno das eleições. O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), vai disputar a reeleição no próximo dia 26.

Para chegar ao suspeito, a polícia analisou furtos de placas, local dos crimes, vítimas relacionadas, vídeos do assassinato de moradores de ruas e de assaltos. Segundo o delegado, cada imagem obtida identificava detalhes, e a partir deles foi possível filtrar características do veículo e do suspeito.

A Polícia Civil apresentou objetos apreendidos na casa de Rocha que apareciam em imagens de câmeras relacionadas aos crimes, além de imagens do suspeito em cenas de crimes. Entre eles estão a motocicleta, duas placas de moto, três camisetas, duas calças, um casaco, quatro pares de tênis, três mochilas, além de capacete, capa vermelha para tanque de moto, um revólver calibre 38, duas facas e um martelo.

A prisão do vigilante, por enquanto, é temporária. Expira em 30 dias e é prorrogável pelo mesmo prazo.

Colaborou JULIANA COISSI, enviada especial a Goiânia


Endereço da página:

Links no texto: