Folha de S. Paulo


Em gravação, Abdelmassih cita 'amigo' na Secretaria da Segurança Pública

Enquanto estava foragido no Paraguai, o ex-médico Roger Abdelmassih, 70, questionou se um suposto contato na Secretaria da Segurança Pública poderia interceder a seu favor.

Em resposta à revelação da conversa pelo programa "Fantástico", da rede Globo, neste domingo (12), a Corregedoria da Polícia Civil afirmou investigar suposta proteção de policiais a Abdelmassih.

"O nosso amigo da Segurança, será que ele não tem condição de ver? Alguma ideia, alguma coisa concreta aonde são essas denúncias?", disse o ex-médico.

Abdelmassih ridicularizou o valor da recompensa por informações sobre seu pardeiro "Deram R$ 10 mil. Eu tô valendo tão pouco, pô. Pensei que fosse por R$ 50 [mil]."

Condenado em primeira instância a 278 anos de prisão pelo estupro de 37 mulheres, Abdelmassih passou três anos e sete meses foragido e foi capturado no último dia 19, em Assunção, Paraguai.

Nas conversas, interceptadas com autorização judicial, Abdelmassih não admite ter abusado de pacientes, mas admite ter tido relações sexuais com algumas delas.

"Passava mulher para trás constantemente, provavelmente achava que 'tava' tudo disponível. A mulher jogava o milho e eu ia comer e aí eu levei o ferro. Você sabe que mulher é um bicho desgraçado mesmo", afirmou.

Sobre as pacientes que o acusam de estupro, disse que "são doentes mentais. É louca mesmo".

"Toda essa história negativa contra minha pessoa e essas vagabundas aparecendo na televisão, dizendo que eu fazia isso, fazia aquilo."

Em diálogo informal com Ruy Marco Antônio, ex-proprietário do hospital São Luiz, ele pede ajuda financeira e promete pagar a dívida.

Abdelmassih disse que R$ 1 milhão, "nos tempos antigos, era brincadeira", em provável referência ao período de sucesso de sua clínica médica.

O CASO

O ex-médico foi denunciado pela primeira vez ao Ministério Público em abril de 2008, por uma ex-funcionária do médico, e revelado pela Folha em janeiro de 2009. Depois, diversas pacientes com idades entre 30 e 40 anos bem-sucedidas profissionalmente disseram ter sido molestadas quando estavam na clínica de Abdelmassih.

As mulheres dizem ter sido surpreendidas por investidas do especialista quando estavam sozinhas -sem o marido e sem enfermeira presente (os casos teriam ocorrido durante a entrevista médica ou nos quartos particulares de recuperação). Três afirmam ter sido molestadas após sedação.

Formalmente, Abdelmassih foi acusado de estupro contra 39 ex-pacientes, mas como algumas relataram mais de um crime, há 56 acusações contra ele. Desde que foi acusado pela primeira vez, Abdelmassih negou por diversas vezes ter praticado crimes sexuais contra ex-pacientes. O médico afirma que foi atacado por um "movimento de ressentimentos vingativos".

Abdelmassih também já chegou a afirmar que as mulheres que o acusam podem ter sofrido alucinações provocadas pelo anestésico propofol.


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