Pouco antes do primeiro caso suspeito de Ebola ser divulgado no Brasil, o secretário de vigilância em saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, disse na quinta-feira (9) que não pretendia mudar o protocolo nos aeroportos para avaliar a temperatura de viajantes que cheguem ao Brasil.
De acordo com ele, experiências sanitárias anteriores, como SARS e influenza aviária, mostraram que não é eficaz o esforço de medir temperaturas nos aeroportos, até porque o viajante pode chegar ao país sem sintomas.
A reportagem da Folha esteve em Serra Leoa em agosto para fazer reportagens sobre a epidemia de ebola. Os repórteres voltaram em 20 de agosto e tiveram a temperatura monitorada no aeroporto da capital, Freetown.
Mas posteriormente, nas escalas em Bruxelas, Londres e na chegada a São Paulo, não houve qualquer controle.
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Barbosa diz que o reforço que o Brasil está fazendo é com as secretarias de saúde locais para que os sintomas de ebola sejam corretamente informados a hospitais públicos e privados, para que os serviços possam identificar rápido eventuais casos que sejam trazidos ao país.
Em cada Estado brasileiro foi identificado um hospital de referência para o ebola, que recebeu testes rápidos para o diagnóstico de malária. "O mais provável é que cheguem pessoas da África com febre e que seja malária", disse.
Esses hospitais serão responsáveis por isolar eventuais pacientes com suspeita ou confirmação para o ebola, até que a pessoa seja transferida para um dos dois hospitais apontados pelo governo para o tratamento: o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (RJ), para onde o africano Souleymane Bah, 47, foi levado nesta sexta-feira (10) e o Instituto de Infectologia Emílio Ribas (SP).
Para ele, o risco de um viajante infectado com o vírus ebola chegar ao Brasil e a outros países da América do Sul continua "muito baixo", mas "em nenhum país do mundo é zero", disse.
"Em nenhum país do mundo [o risco] é zero, nem na Coreia do Norte é zero, -pode ser o menor risco do mundo por ser um país totalmente isolado, mas pode chegar alguém [infectado]. Países com colônia grande [de pessoas dos países com transmissão] e voo direto têm mais chance, ou com comércio forte e fronteira entre países têm mais chance.
Para o Brasil e outros países da América do Sul, o risco é muito baixo para importação de um caso. Mas baixa probabilidade não significa zero. Por isso, temos um processo de preparação", afirmou o secretário durante reunião do Conselho Nacional de Saúde, na quinta-feira (9).
Até agora, o Brasil não registrou nenhum caso confirmado da doença. A Organização Mundial de Saúde estima que serão registrados 20 mil casos de ebola no mundo até 2 de novembro.
Nesta sexta (10), o governo brasileiro deve anunciar um novo conjunto de doações para os países mais afetados pelo ebola na África. É possível que toda a doação não seja feita diretamente em dinheiro, mas em bens (como equipamentos e alimentos), com o objetivo que a ajuda chegue de forma mais direta e rápida.