Folha de S. Paulo


Tribunal investiga compra de sistema anticrime pelo governo paulista

O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo investiga a participação de um coronel da Polícia Militar na aquisição, pelo governo paulista, de um programa da Microsoft para a inteligência policial.

Batizado de Detecta, o programa, segundo o governo, vai integrar bancos de dados das polícias Civil e Militar com câmeras nas ruas e ainda está em fase de implantação. É apresentado pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB) como a principal ferramenta de combate ao crime no Estado.

A análise da compra do Detecta havia sido arquivada pelo TCE em junho. Nesta quarta-feira (8), o processo foi desarquivado pelo conselheiro Antonio Roque Citadini com base em reportagem publicada no sábado (4) pela Folha.

Conforme noticiado, o coronel Alfredo Deak Junior chefiou a área de tecnologia da PM até 2012, de onde foi afastado pelo então secretário da Segurança, Antonio Ferreira Pinto. À época, Pinto disse haver suspeitas de irregularidades em licitações.

Em maio de 2013, ainda na ativa, o coronel recebeu em Nova York uma comitiva do governo paulista para, em nome da Microsoft, apresentar o Detecta, que acabou sendo comprado por R$ 9,7 milhões.

Em julho daquele ano, o coronel se aposentou e, meses depois, assumiu a chefia da divisão de segurança pública da Microsoft. Hoje, Deak coordena a implantação do Detecta em São Paulo.

O TCE deu um prazo de 15 dias para que o secretário da Segurança, Fernando Grella, esclareça se, na ocasião da visita a Nova York, foram feitos relatórios que justificassem a escolha do Detecta. A comitiva passou também por Amsterdã e Londres em busca de sistemas de inteligência.

O tribunal quer saber ainda qual foi "a efetiva participação [do coronel] para o processo decisório", e quais suspeitas de irregularidades em licitações pesaram contra a área de tecnologia da PM enquanto ele a comandava.

À Folha a assessoria de imprensa da Microsoft informou que Deak trabalhou para demonstrar ao governo que o Detecta era adequado às necessidades de São Paulo.

No mês passado, a Secretaria da Segurança informou erroneamente que Deak havia se aposentado da PM em maio de 2013 –mês em que ele recepcionou a comitiva nos EUA. Depois, corrigiu-se.

A compra foi feita pela Prodesp (estatal de tecnologia) sob coordenação do secretário de Planejamento, Julio Semeghini. Para usar o sistema por um ano, a Segurança pagará R$ 8,6 milhões à Prodesp, com reajuste anual.


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