Folha de S. Paulo


Estiagem faz moradores de São Paulo estocarem água

Adriano Vizoni/Folhapress
O fisioterapeuta Felix Marx, 35, já vendeu mais de 100 tonéis de água para os vizinhos
Paulistanos estão estocando água em tonéis por conta da estiagem na região

Em um grupo de moradores de Alphaville no Facebook, Felipe Marx, 35, postou a foto de dois tonéis onde estocava a água "usada" da lava-roupa para depois lavar o quintal. Por boa vizinhança, ofereceu: "Posso buscar mais alguns, se alguém quiser".

Não esperava a avalanche de pedidos. "Repassei mais de cem tonéis em um mês. Só hoje [sexta, 3/10], busquei mais 13", conta.

Morador do residencial 9, em Santana do Parnaíba (Grande São Paulo), o fisioterapeuta diz não lucrar com as encomendas. "Cobro cerca de R$ 100 por tonel, que é o que gasto entre comprar, transportar e instalar a torneira."

Segundo ele, mesmo antes da seca que atinge o Estado, o condomínio já tinha problemas de abastecimento por ficar numa área alta.

"Todas as casas aqui têm caixas-d'água grandes. A minha é de 4.000 litros, mas uso os tonéis para poupar a água do [sistema] Cantareira", diz –o sistema chegou a 6,4% da capacidade na sexta-feira (3). Os recipientes guardam de 120 a 150 litros de água.

Na Brasilândia, na zona norte de São Paulo, o líder comunitário Henrique Deloste, 49, recorreu a garrafas PET. "Senão, fico sem até para cozinhar", conta. "Aqui, está todo mundo armazenando porque à noite não tem água e, às vezes, de dia também", diz.

A situação é semelhante à do Jardim Monte Azul, extremo sul paulistano. "Às vezes ficamos 24 horas sem água, especialmente no fim de semana", diz Jaime Diko, 33.

Ele faz parte do projeto Espaço Comunidade, que, no mês passado, sediou uma oficina ao público do bairro sobre como montar uma minicisterna. "É um jeito de armazenar a água da chuva para limpeza, não para beber. Ajuda a guardar o que a caixa-d'água não dá conta", afirma.

Na região central, estabelecimentos na praça Roosevelt, reduto cultural e boêmio, também improvisam "Cantareiras particulares".

Zé Carlos Barretta/Folhapress
Henrique Deloste, líder comunitário da região da Brasilândia, passou a armazenar água apos crise hídrica
Henrique Deloste, líder comunitário da região da Brasilândia, passou a armazenar água apos crise hídrica

"É apaguão' toda noite. Vira e mexe os carrinhos da Sabesp estão aqui na esquina com aquela coisa de fechar e abrir água", diz o administrador do teatro Parlapatões, Eduardo Carvalho.

"Temos caixa-d'água, mas compramos dois recipientes para estocar mais 300 litros aqui. Mesmo assim, quando é 22h30, acaba a água mesmo", afirma Eduardo.

A Sabesp, empresa ligada ao governo Geraldo Alckmin (PSDB), nega que haja um racionamento de água não declarado e diz que problemas de abastecimento devem ser analisados caso a caso.

A companhia afirmou que técnicos foram ao endereço informado na Brasilândia e ouviram que não faltava água. Na praça Roosevelt, a companhia disse que o fornecimento é normal e que orientou o administrador do teatro a usar caixa d'água maior.

Em Alphaville, a empresa disse ter feito um conserto que restabeleceu o fornecimento.

A Sabesp orienta os clientes a manter caixas-d'água capazes de abastecer os imóveis por 24 horas.

Especialistas afirmam que não é recomendável guardar mais água do que a necessária para um dia, pois manter a água parada pode comprometer a qualidade.


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