Folha de S. Paulo


Sequestrador de Brasília disse que estava doente e prestes a morrer

Jac Souza dos Santos, que manteve por mais de sete horas um refém dentro de um quarto de hotel no centro de Brasília, dizia acreditar que estava prestes a morrer. A informação consta em anotações dele apreendidas pela polícia, às quais a Folha teve acesso.

Segundo texto que teria sido escrito em dezembro de 2012, Jac afirma ter diagnostico de uma doença que daria a ele expectativa de vida de apenas dois anos. A polícia não confirma a veracidade do diagnóstico.

Segundo a família de Santos, ele sempre gostou muito de política. E, em sua carta, ele fala do medo de morrer sem ver "alguém que lutasse e fizesse algo por essa nação".

"Hoje pela manhã, eu recebi meu resultado de tomografia/ Obti um resultado inesperado/ O meu médico me deu uma perspectiva de vida de 2 anos/ Ou seja, o meu coração só vai executar 7.905.600 batimentos/ Isso se ele estiver correto / Eu não ignoraria que o meu fim estaria tão próximo / O que eu fico mais triste é que eu iria morrer e não veria alguém que lutasse e fizesse algo por essa nação / cansei cansei de esperar / Portanto, decidi dedicar ao pouco tempo de vida que me resta / Para lutar", escreveu.

Reprodução
Anotações de Jac Souza dos Santos, 30, que manteve o funcionário de um hotel em Brasília por sete horas como refém.
Anotações de Jac Souza dos Santos, 30, que manteve o funcionário de um hotel em Brasília como refém.

Em outra anotação, Santos fez um desenho que simboliza os poderes Judiciário e Legislativo com coleiras controladas pelo poder Executivo.

A polícia acredita que a ação de Santos nesta segunda-feira (29) foi premeditada, já que no último dia 19, ele havia gravado um CD em que pedia desculpas pelo seu ato. O CD foi entregue aos policiais no momento em que Santos se entregou. Em um trecho da gravação, ele faz referência ao cenário político nacional e diz que o povo seria "o gigante adormecido" e que precisaria acordar.

"(...)somos insignificantes para o governo. Por isso eles nos subestimam, nos tratam com total descaso. Por isso, quero vos lembrar que somos uma nação e que juntos somos o gigante adormecido, que precisamos acordar. Eles nos tratam com total divisão: cor, raça, religião, sexualidade e até mesmo poder aquisitivo. Não podemos nos esquecer que, apesar das divisões sociais, ainda somos um só povo. E que nossa esperança nos dê coragem e a determinação para alcançarmos os nossos propósitos e nossos ideais."

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O SEQUESTRO

Santos manteve por mais de sete horas um refém dentro de um quarto de hotel no centro de Brasília e entregou por volta das 16h. Santos estava armado e fez com que um funcionário do hotel St. Peter usasse um colete em que supostamente estaria material explosivo. Ninguém foi ferido na ação.

A polícia chegou a afirmar que tinha 98% de certeza de que os explosivos eram verdadeiros. Policiais suspeitavam que o explosivo seria dinamite. No entanto, com o fim do sequestro constatou-se que a bomba e a arma eram falsas. Cerca de 150 policiais estiveram envolvidos na operação.

Santos é ex-secretário municipal de agricultura e agropecuária na cidade de Combinado (TO). Em 2008, ele concorreu ao cargo de vereador, na cidade. Ele não tem antecedentes criminais e estaria atualmente trabalhando em uma campanha eleitoral.

Reprodução
Jac Souza dos Santos é filiado ao PP de Combinado (TO) e, em 2008, ele disputou as eleições para vereador no município
Jac Souza dos Santos é filiado ao PP de Combinado (TO) e, em 2008, ele disputou as eleições para vereador no município

Ao longo da tarde, o sequestrador não apresentou uma reivindicação clara. Entre os pedidos estavam a aplicação da lei Ficha Limpa (que impede a candidatura de políticos condenados em tribunais colegiados da Justiça), o fim da reeleição no Brasil e a extradição de Cesare Batisti (italiano acusado de assassinato na Itália que conseguiu autorização para permanecer no Brasil).


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