Folha de S. Paulo


Megaeventos, festas da USP pagam até cachê de R$ 50 mil

Antes voltadas principalmente aos alunos da universidade, com as bandas preferidas do público local, as festas da USP se tornaram um mercado que movimenta milhares de reais.

No sábado (20), o estudante do Senac Victor Hugo Santos, 20, desapareceu em uma festa organizada pelo Grêmio da Poli no velódromo da universidade. O jovem foi encontrado morto na raia olímpica da USP na terça (23).

Naquela noite de sábado, 5.000 pessoas, não apenas alunos da USP, pagaram até R$ 90 para assistir ao cantor Marcelo D2 e à banda CPM 22.

Para atrair artistas consagrados, e aumentar o público, organizadores bancam cachês de celebridades como o do funkeiro MC Guimê, que cobrou R$ 50 mil para tocar numa festa do centro acadêmico dos cursos de engenharia civil e ambiental em junho.

A morte do estudante fez as faculdades manifestarem preocupação sobre o descontrole das festas.

ABUSO SEXUAL

Na Medicina, uma comissão que apura casos de abuso sexual e de consumo excessivo de drogas e álcool pede que a USP assuma parte da responsabilidade pelos incidentes. "Não pode estourar sempre pro lado mais fraco", disse o professor Paulo Saldiva, presidente da comissão.

Bruno Poletti/Folhapress
Jovens participam da Peruada, no centro de SP, em 2013
Jovens participam da Peruada, no centro de SP, em 2013

O grupo recebeu relatos de cinco casos de prática sexual em "estado de consciência alterada" nos últimos cinco anos. Há episódios de manifestações racistas e registro de consumo de "praticamente tudo" na USP -além de drogas e álcool, medicamentos tarja preta.

O professor defende disciplinas como tolerância e compaixão no currículo.

"Ensinamos muita molécula e poucos valores. Falo como pessoa física. Estamos formando muitos dr. Houses [personagem de uma série de TV com excelente capacidade de diagnóstico, mas nenhuma sensibilidade]."

Saldiva diz acreditar que as práticas ocorram também em outras unidades da USP. Mas a maioria de seus pares não sabe o que ocorre no interior da universidade, afirma.

A comissão elaborou documento que será apresentado à faculdade pedindo punições mais severas e melhores condutas. "Não precisamos inventar nada. Já está tudo no Código Penal", afirma.

O grupo quer pedir auxílio de especialistas para elaborar uma espécie de manual. "Há soluções que dependerão da USP, que está num baixo astral, como se fosse um Titanic afundando."

"É por isso que a próxima festa Carecas no Bosque [da atlética da Medicina] não vai ocorrer. Ninguém quer correr o risco", disse Saldiva.

A direção da Faculdade de Medicina disse que espera a conclusão dos trabalhos da comissão para se manifestar. Segundo a unidade, representantes da atlética não estavam autorizados a falar.

HAPPY HOUR' OU BALADA

Segundo André Simmonds, 20, do Grêmio da Poli, organizador do evento de sábado (20), mais de dois meses são necessários para a produção e aprovação de uma festa pela USP.

Há dois tipos de evento: os "happy hours" e festas de médio porte como Osama Bin Reggae (História), que são gratuitas e atraem mais público da própria USP, e as grandes baladas.

As últimas ocorrem com menor frequência e reúnem milhares de pessoas. Acontecem dentro e fora da Cidade Universitária. A balada G4, por exemplo, lotou uma quadra de uma escola de samba em maio. O ingresso chegava a custar R$ 100.

Foi organizada por alunos dos centros acadêmicos da medicina, direito, odontologia e de cursos da Poli.

Gabriel Beré, 20, do centro acadêmico de direito, diz que a entidade organiza dez festas anuais e chega a faturar R$ 10 mil por evento.

Problemas de violência são recorrentes. O encontro semanal Quinta&Breja, da ECA (Escola de Comunicações e Artes), chegou a ser suspenso devido a assaltos.


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