Folha de S. Paulo


População de Itu terá água a cada dois dias, afirma a prefeitura

Em meio a protestos de moradores descontentes com um racionamento de água que já dura quase oito meses, a Prefeitura de Itu (a 101 km de São Paulo) anunciou nesta sexta-feira (26) a ampliação do uso de caminhões-pipa para abastecer a cidade e a criação de um comitê de crise.

"A cada dois dias as pessoas terão água em casa. Esse é o propósito", afirmou Marco Antônio Augusto, secretário de Segurança, Trânsito e Transporte e porta-voz do comitê recém-criado para monitorar a crise hídrica. "O racionamento não está sendo cumprido. Isso é evidente e todos sabemos."

No racionamento em vigor até agora, os moradores deveriam receber 10 horas de água a cada dois dias, mas há relatos de gente que ficou até um mês sem água em casa.

A falta de água no município resultou em dois confrontos entre manifestantes e a polícia esta semana. Um novo protesto está agendado para segunda (29).

A demanda diária de Itu é de 62 milhões de litros de água, mas a capacidade atual de abastecimento é de apenas 20 milhões de litros. Outros 3 milhões estão sendo oferecidos por meio de caminhões-pipa e água de represas e poços artesianos particulares.

A expectativa é que, com as novas medidas, a oferta dobre nos próximos dias.

"As pessoas começarão a receber água em 72 horas. Para que todos tenham água a cada dois dias vai [demandar] um tempo maior, que não dá para prever", diz Augusto.

Segundo ele, no entanto, a maioria das casas já é abastecida a cada 48 horas, mas há 17 "pontos críticos" na cidade. "Onde a água não chega, por uma questão de gravidade e de pressão, vamos levar de caminhão. O processo agora é minimizar o problema."

A administração afirma que divulgará com antecedência os locais que serão abastecidos pelos caminhões. Cada casa receberá no máximo mil litros de água, para que todas possam ser atendidos.

Dos 44 caminhões, 34 servirão os pontos críticos e 10, os equipamentos públicos, como escolas, creches, hospitais e centros de saúde. Além dos caminhões, 60 dos 110 poços artesianos catalogados no município e 50 represas particulares estão sendo usadas para abastecer a população.

O comitê de crise, formado pela agência reguladora do município, diversas secretariais e a própria concessionária, deverá se reunir duas vezes por dia e fiscalizar o cumprimento do racionamento estabelecido pela Águas de Itu, que foi adquirida recentemente pela Águas do Brasil.

A aquisição foi uma tentativa de resolver o problema de abastecimento na cidade, que já resultou em mais de R$ 10 milhões em multas à Águas de Itu desde 2013, segundo a prefeitura.

PROTESTOS

Apesar da crise, a administração municipal descarta decretar estado de emergência ou calamidade pública em Itu -principal reivindicação dos cerca de 2.000 manifestantes que protestaram diante da Câmara Municipal na segunda-feira (22).

Na ocasião, janelas foram apedrejadas e a Força Tática da PM dispersou a multidão com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.

Na noite de ontem (25), outro protesto acabou em confronto com a polícia, desta vez em frente ao comitê de campanha do ex-prefeito de Itu e candidato a deputado federal Herculano Passos (PSD).

O grupo afirma que Passos, que governou Itu por dois mandatos, é um dos responsáveis pela crise de abastecimento.

O atual prefeito, Antonio Tuíze (PSD), e o presidente da Câmara, Doutor Bastos (PSD), são aliados do ex-prefeito e foram secretários em suas administrações.

A cidade tem em torno de 165 mil habitantes, segundo o IBGE.


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