Folha de S. Paulo


Major recebeu R$ 1 milhão em salários mesmo após ter sido preso no Rio

Demorou cinco anos para o major Dilo Pereira Soares Júnior ser expulso da Polícia Militar do Rio. A decisão foi publicada na edição desta sexta (19) do "Diário Oficial do Estado". Cabe recurso.

Preso em dezembro de 2009, o major obteve, em março de 2010, um benefício da Justiça para aguardar o julgamento em liberdade.

Em 2013, foi condenado, em primeira instância, a dez anos de prisão, sob acusação de pertencer à milícia mais antiga do Rio, na favela de Rio das Pedras (zona oeste).

Durante todo o período, ele recebeu regularmente o salário. De acordo com o governo do Rio, os vencimentos do policial chegaram a R$ 956 mil em quase cinco anos. Sua remuneração mensal é de pouco mais de R$ 16 mil.

Ele está à disposição da PM, mas não foi lotado em nenhum batalhão. Até esta sexta, o seu nome aparecia como "ativo" entre os servidores do Rio.

O advogado do major, Renato Tonini, disse que seu cliente vai recorrer da decisão do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) de demiti-lo.

SEGUNDA EXPULSÃO

Essa é a segunda vez que o major Dilo é expulso da PM fluminense. A primeira foi em 2001, quando foi acusado de participar do sequestro e da morte de um taxista. Ele recorreu da decisão e conseguiu retornar à corporação.

Em 2007, passou a ser investigado pela Polícia Federal e pela Corregedoria Geral Unificada sob a suspeita de integrar a milícia que domina a favela de Rio das Pedras desde os anos 1980.

O nome do major foi citado na CPI das Milícias na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), em 2008.

No ano seguinte, ele foi preso acusado de integrar uma rede de agiotas que cobrava altos juros dos moradores da comunidade da zona oeste do Rio. Aqueles que não pagassem os empréstimos eram agredidos e até mortos, segundo o Ministério Público.

Em 2009, a Justiça apreendeu 11 imóveis e terrenos adquiridos pelo major e colocados em nome da sua mulher. De acordo com a Promotoria, os bens eram estimados, à época, em R$ 7,1 milhões.

Em dezembro daquele ano, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, deu entrada no processo de demissão do oficial.

PROCESSO LENTO

O processo para expulsar um oficial (capitão, major, tenente, tenente-coronel ou coronel) da PM do Rio deve partir do secretário de Segurança. Um parecer é enviado à PM, que opina sobre o caso.

O secretário concorda ou não e, se decidir pela demissão, encaminha o caso para o Tribunal de Justiça. O governador apenas cumpre a determinação judicial.

Em 2011, Beltrame mandou ao tribunal o pedido para demitir o major. Demorou três anos para que o TJ julgasse o caso e decidisse pela expulsão do policial.

O processo de expulsão é bem diferente quando envolve soldados, cabos e sargentos. Nesse caso, pode durar apenas um mês.


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