As 58 pessoas que moram no assentamento Boa Esperança, em Iracema (a 285 km de Fortaleza), não têm acesso a água encanada nem luz. Vivem em uma região do interior do Ceará que hoje é palco de conflitos pelo acesso à água.
Essas famílias são vítimas de uma cruel ironia. Elas foram desalojadas de suas antigas casas para a construção da Barragem do Figueiredo, obra federal estimada em R$ 140 milhões e que faz parte do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Segundo a União, a barragem, inaugurada no ano passado, foi construída para dar acesso a água para 80 mil pessoas na região do baixo Jaguaribe, no interior do Ceará. Mas, para essas famílias, ocorreu justamente o oposto.
"Na antiga casa que morávamos tínhamos água e energia elétrica. Fomos colocados no meio do mato sem acesso a nada", diz Damiana Bruno, 27, uma das assentadas.
O Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) foi responsável pela construção das novas casas, que têm medidores de energia, embora a eletricidade não tenha sido instalada.
"Nós perdemos todos os nossos eletrodomésticos. Televisão, geladeira, micro-ondas. Está tudo guardado no meio da poeira. Não temos como fazer uso", diz Alaíde Moura, 60, outra assentada.
Sem energia, a única forma de conservar os alimentos é salgando a carne ou comprando tudo em pequenas quantidades –o que é um transtorno, já que o assentamento fica a 4 km da rodovia, e a única forma de acesso é uma estrada de terra.
Para resolver o problema da água, os moradores construíram uma cisterna de 16 mil litros que é abastecida uma vez por semana por carros-pipa da prefeitura.
"Aqui estamos isolados do mundo. Não temos acesso a nada. Alguns moradores aqui não conseguem nem quitar suas dívidas nos bancos, porque eles pedem comprovante de residência por meio de contas de água ou luz", afirma a assentada Damiana.
Segundo o Dnocs, já foi liberada a verba para instalação de energia elétrica no assentamento.
O órgão também informou que será cavado um poço para retirada de água no assentamento, mas não soube estabelecer um prazo. O valor usado para a construção da infraestrutura de energia e água será de R$ 600 mil.