Folha de S. Paulo


Polêmicas, ciclovias viram obsessão dentro da Prefeitura de São Paulo

No Edifício Matarazzo, sede da Prefeitura de São Paulo, só se fala em ciclovia.

Já estão definidos os próximos 148 km de vias para bicicletas, campanhas de marketing e até projetos mais complexos como ciclopassarelas cruzando as marginais.

Um evento deve ser realizado nas próximas semanas para comemorar a criação dos primeiros 100 km de ciclovias implantadas na gestão Fernando Haddad (PT).

Desde junho, a prefeitura já pintou de vermelho (a cor é padrão, uma exigência das normas de trânsito) 58 quilômetros de vias para ciclistas.

Editoria de Arte/Folhapress

À medida que as vias se expandem também cresce a polêmica sobre o assunto. Comerciantes e associações de bairros se mobilizam contra o estreitamento de faixas e a eliminação de vagas de estacionamento –estima-se que 5.800 já foram removidas.

O assunto vai ganhar ainda mais visibilidade, já que uma campanha da prefeitura na TV vai usar as ciclovias para convencer turistas dos atrativos da capital.

RIOS

O próximo passo do plano de Haddad é a construção de seis ciclopassarelas sobre os rios Tietê e Pinheiros. O objetivo é ligar bairros à malha cicloviária do centro e estimular o uso da bicicleta no trajeto de casa para o trabalho.

Atualmente, pelas pontes para veículos, a travessia de bicicleta pode ser perigosa até para ciclistas experientes.

A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) diz que identificou dois pontos na marginal Tietê (nas pontes Piqueri e Freguesia do Ó) e quatro na Pinheiros (pontes Jaguaré, Cidade Universitária, Cidade Jardim e Eusébio Matoso) para as obras.

As estruturas devem ser paralelas às pontes, mas projetos detalhados ainda estão sendo elaborados. Para efeito de comparação, uma ciclopassarela planejada pelo Estado em 2012 tinha custo estimado em R$ 80 milhões.

Com 500 metros, ligaria a USP ao parque Villa Lobos e era prometida para este ano.

A marginal Tietê não deve ganhar ciclovias. No entanto, a administração pretende implantar vias para bicicletas em ruas paralelas.

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PERGUNTAS E RESPOSTAS

Como se chegou à meta de 400 km de ciclovia?
A prefeitura diz os 400 km são o mínimo para a criação de uma rede para bikes. O número faz parte da lei que estabeleceu o programa de metas da gestão Haddad (PT).

Quem faz os projetos das ciclovias em São Paulo?
São desenvolvidos pela CET e por escritórios de engenharia contratados pela prefeitura

Quais são os critérios para a escolha dos locais?
Segundo a CET, o objetivo é oferecer segurança e conforto ao ciclista. O padrão de ciclovia escolhido tem dois sentidos, fica à esquerda e não elimina faixa de tráfego

Experiências internacionais foram consideradas?
A prefeitura diz ter se baseado em planos cicloviários implantados em cidades como Amsterdã, Buenos Aires e Nova York, que foi visitada por uma comitiva mês passado

Na av. Paulista, por que o canteiro foi escolhido para receber ciclovias?
Para a prefeitura, o canteiro central não comportaria parada de ônibus sem que houvesse mudanças, como redução da calçada. Para especialistas, seria melhor por o corredor de ônibus à esquerda e implantar a ciclovia à direita

Quantos pessoas andam de bicicleta na cidade?
Segundo Pesquisa de Mobilidade do Metrô de 2012, 268 mil viagens são feitas em bikes por dia (0,6% do total). A conta só considera o modo principal de transporte. Quem vai ao metrô de bike, por exemplo, não é considerado

Por que as ciclovias estão vazias?
A prefeitura diz haver demanda represada, e que as ciclovias devem aumentar para pelo menos 5% o percentual de viagens feitas de bike

Qual será o impacto das ciclovias no trânsito?
A prefeitura diz que a diretriz é preservar faixas de tráfego. Cerca de 40 mil vagas de estacionamento na rua darão lugar às ciclovias na cidade

O projeto foi discutido nos bairros?
Moradores, taxistas e comerciantes dizem que não. Eles reclamam que, sem acesso à calçada, não conseguem fazer carga e descarga ou apanhar passageiros idosos. A prefeitura diz que o projeto foi apresentado publicamente, e que ajustes podem ser feitos se houver problemas

Qual o custo?
A gestão estima em R$ 200 mil por km. O projeto da Paulista, mais complexo, vai ter 3,8 km e custar R$ 15 milhões

Porque as ciclovias são pintadas de vermelho?
A cor é definida pelo Manual Brasileiro de Sinalização de Trânsito e a mais adotada internacionalmente. O vermelho já era usado pela CET nas gestões anteriores


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