Folha de S. Paulo


Polícia Civil apura se jovem gay morto em Goiás foi vítima de homofobia

A Polícia Civil de Goiás suspeita que o assassinato de um jovem de 18 anos na cidade de Inhumas, na região metropolitana de Goiânia, tenha sido motivado por homofobia. O corpo do rapaz, que era gay assumido, foi encontrado com hematomas no rosto e sacolas plásticas enfiadas na boca nesta quarta-feira (10).

João Antônio Donati, 18, trabalhava como garçom em um bar na cidade, que tem 48 mil habitantes. Segundo a Polícia Civil, ele estava desaparecido desde a noite de terça-feira (9). O corpo foi encontrado às 8h de quarta, em um terreno baldio, por pessoas que passavam na rua a caminho do trabalho.

Segundo o delegado Humberto Teófilo de Menezes Neto, responsável pelo caso, a vítima tinha hematomas na boca e nos olhos, além de diversas sacolas na boca. A suspeita do delegado é que ele tenha morrido asfixiado pelo plástico. Não havia outras marcas de agressão no corpo.

A suspeita de homofobia como motivo do crime, segundo Menezes Neto, seria pela forma cruel como a vítima morreu e porque nada foi roubado –a carteira estava com Donati, com dinheiro dentro.

A perícia, que vai apurar a causa da morte, deve ser concluída em uma semana. A partir de segunda-feira, a polícia vai começar a ouvir familiares e amigos. Também o celular e o notebook dele já estão com a polícia, a fim de identificar, nos diálogos, possíveis suspeitos do homicídio.

Reprodução/Facebook
João Antônio Donati, 18, encontrado morto em Inhumas (GO); polícia suspeita de homofobia
João Antônio Donati, 18, encontrado morto em Inhumas (GO); polícia suspeita de homofobia

AMIGOS

Donati comemorou os 18 anos no fim do ano passado na Casa de Madrid, bar que é um ponto de encontro na cidade. Há três semanas, passou a trabalhar no local como garçom.

Uma das donas do local, Graças de Maria Ferreira 52, diz que Donati era muito comportado e elogiado pelo marido dela, que cuidava do bar.

"Estamos bestas até agora. A gente imagina tanta coisa e não sabe dizer o que pode ter acontecido", diz. Segundo Maria, Donati era estimado e tinha vários amigos, como pode constatar na festa de aniversário do jovem.

Na página de Donati no Facebook foram deixados quase mil comentários, a maioria de pessoas desconhecidas, lamentando a morte e pedindo Justiça. Há mobilização nas redes sociais para organizar manifestações contra a morte do rapaz.

ÓDIO

Segundo o Grupo Gay da Bahia, 205 pessoas foram assassinadas no Brasil neste ano por motivação homofóbica. No ano passado, o número de gays, lésbicas, travestis e transexuais mortos chegou a 313.

"São crimes de ódio, com tortura antes da morte, múltiplas violências no corpo, rostos desfigurados e até mesmo castrações", diz o antropólogo Luiz Mott, 68, fundador da organização.

Na opinião de Mott, apesar dos avanços, o Estado brasileiro ainda não sabe enfrentar o que chamou de "praga social", que são os crimes homofóbicos, já que não há dados oficiais deste tipo de homicídio.

Segundo o fundador do Grupo Gay da Bahia, um homossexual é assassinado a cada 28 horas no Brasil e organizações internacionais de defesa de LGBTT colocam o país no topo do ranking mundial de assassinatos por motivos homofóbicos, com 44% dos casos.

Em nota, a Secretaria de Diretos Humanos da Presidência da República lamentou o homicídio e disse receber com "alarme, tristeza e indignação" a notícia da morte do rapaz, com indícios de tortura e tese de crime motivado por homofobia. A pasta manifesta as "mais profundas condolências" à família e amigos do jovem e apela para que as autoridades goianas "deem ao caso a atenção devida".


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