Folha de S. Paulo


Maria da Penha Jorge Ribeiro (1926-2014) - Desde 1951, anotou 800 receitas

Tem bolo de abacaxi, tem camarão na moranga, pudim de doce de leite, bolo de batata com carne. Tem receita para mais de dois anos inteiros no fichário de Maria da Penha Jorge Ribeiro.

Desde 1951, quando se casou com Alcides Ribeiro, a dona de casa guardava, num fichário, as receitas que fazia para a família.

São 800 receitas: bolos, tortas, doces e gelados. Quando não lembrava o preparo de um prato, consultava o catálogo. Mas não escondia seus segredos dos outros.

"O fichário, que ela emprestava para noras e sobrinhas, era uma referência para as mulheres recém-casadas da família", conta o filho José Antonio Ribeiro.

Maria só anotava as receitas. Não patenteou nenhuma porque não quis, apesar de ter trabalhado por anos no escritório de patentes e marcas de seu marido Alcino.

Outro orgulho de Maria era saber falar e escrever fluentemente alemão. Não tinha, no entanto, nenhuma ligação com o país europeu.

Aprendeu a língua porque seu pai, nos anos 30, temeu que o idioma poderia se tornar o mais falado do mundo com a ascensão de Hitler e dos nazista.

Ele matriculou então Maria numa escola alemã bilíngue do centro de São Paulo. Nunca mais esqueceu.

"Ela praticava eventualmente, quando encontrava algum alemão. Ou quando viajava para a Europa", conta o filho José Antonio.

Morreu na última segunda-feira (1º), vítima de insuficiência renal, aos 88 anos. Deixa 800 receitas, dois filhos, seis netos e uma bisneta.

coluna.obituario@uol.com.br


Endereço da página:

Links no texto: