Folha de S. Paulo


Ministério da Saúde atrasa instalação de aparelhos de radioterapia

Considerada um dos principais nós da assistência contra o câncer, a oferta da radioterapia pouco avançou na rede pública nos últimos anos.

O grande salto no setor prometido pelo governo federal –de adquirir 80 novas máquinas– está atrasado. O prazo inicial era 2014.

Um relatório, de 2011, do Tribunal de Contas da União estimava espera superior a cem dias para o início do tratamento de radioterapia.

O Inca (Instituto Nacional de Câncer) avaliava que a estrutura então disponível abarcava pouco mais de 60% da demanda no SUS.

Segundo o Inca, a rede dispunha de 220 máquinas de radioterapia no início de 2012, mas deveria ter pelo menos 330. Hoje, são 254, segundo o Ministério da Saúde.

Em 60% dos casos de câncer a radioterapia é indicada. Em 2014, o Inca estima mais de 576 mil novos casos da doença no Brasil.

Fausto Pereira dos Santos, secretário de atenção à saúde do ministério, diz que os primeiros aparelhos (dos 80 novos previstos) deveriam começar a operar neste ano. O prazo foi adiado para 2015 por atrasos na licitação e na entrega dos projetos pela empresa responsável.

Até 2016, afirma, todas devem estar em funcionamento –ano que, originalmente, era o limite desse projeto, diz ele.

DE LADO

"A radioterapia ficou posta de lado durante muito tempo. Não é um problema de dois ou três anos, é de duas ou três décadas", diz Robson Ferrigno, presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia.

Geraldo Praes, 68, foi diagnosticado com um câncer colorretal em abril. Em maio, os médicos decidiram por um tratamento de quimioterapia e radioterapia, segundo Kátia Praes, 55, mulher de Geraldo, paciente do SUS.

"Quando completou um mês [de atraso para o início da radioterapia], fomos à Justiça, o médico aconselhou. Em uma semana, saiu a decisão para ele fazer", diz ela.

Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia, comemora a compra das 80 máquinas pelo governo federal, mas diz que essa é uma solução de médio prazo. "E hoje? Não dá para fazer outra coisa?"

Ferrigno, da sociedade de radioterapia, defende o reajuste do valor pago pela radioterapia no SUS, como forma de estimular clínicas particulares a prestarem o serviço.

O ministério diz que, além das 80 máquinas, fez convênios com gestores e a rede privada para disponibilizar mais 58 máquinas até 2015.

A Varian, empresa ganhadora do pregão das 80 máquinas, afirma que tem buscado cumprir as obrigações pelas quais foi contratada.


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