Folha de S. Paulo


Obras em Viracopos afetam nascente e podem causar 'colapso' em rio, diz conselho

A ampliação do aeroporto internacional de Viracopos, em Campinas (a 93 km de São Paulo), está afetando nascentes e cursos de água afluentes de um importante rio da região, segundo o Comdema (conselho municipal do ambiente).

Uma visita técnica do conselho às obras de ampliação do aeroporto, em 15 de julho, constatou que o estado dos cursos da água e nascentes da sub-bacia do rio Capivari Mirim é "desolador" e pode chegar ao "colapso total" com a construção das novas pistas previstas para o aeroporto e demais obras de ampliação.

"O volume de água, que era intenso há cerca de cinco anos, agora não passa de um filete minúsculo soterrado por grandes deslizamentos de terra", diz o relatório, aprovado na última reunião do órgão deliberativo. "Os antigos largos poços de água onde moradores locais se banhavam estão reduzidos a minúsculas poças de água."

A concessionária Aeroportos Brasil Viracopos, que administra o aeroporto, disse ter as licenças ambientais necessárias e cumprir "rigorosamente todas as exigências da legislação ambiental".

Em nota, afirmou que acatará as recomendações do órgão responsável pela emissão das licenças ambientas, que é a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental).

A Cetesb autuou e multou Viracopos, em 11 de junho deste ano, por assorear o ribeirão Viracopos, um rio da mesma sub-bacia em que o Comdema encontrou as irregularidades, que deságua no rio Capivari Mirim. Segundo a companhia, foram feitos serviços de desassoreamento e correção dos problemas constatados, conforme atestado em fiscalização posterior.

O valor ainda não foi pago, segundo a Cetesb. Procurada novamente, a Aeroportos Brasil Viracopos confirmou ter recebido a multa e disse ter atendido às recomendações da Cetesb. "O ribeirão já foi recuperado", afirmou, em nota.

O sítio aeroportuário de Viracopos tem mapeadas 47 nascentes da sub-bacia do rio Capivari Mirim, principal afluente do rio Capivari. Seus cursos serão canalizados com a expansão do aeroporto, que até 2042 deve receber 80 milhões de passageiros por ano –foram 9,3 milhões em 2013.

Hoje, Viracopos é o sexto maior terminal do país em número de passageiros e o segundo em movimentação de cargas. A concessionária que o administra quer transformá-lo no maior aeroporto da América Latina até o fim da concessão.

Joel Silva - 23.abr.2013/Folhapress
Obras do terminal de passageiros do aeroporto de Viracopos, em Campinas
Obras do terminal de passageiros do aeroporto de Viracopos, em Campinas

COLAPSO TOTAL

As cidades de Indaiatuba (a 98 km de SP) e Monte Mor (a 117 km) captam parte da água para abastecimento humano no Capivari Mirim, que é um rio preservado e não pode receber efluentes de esgoto –mesmo que tratado.

"Alertamos que a sub-bacia do Capivari Mirim será fortemente afetada pelas obras subsequentes de ampliação a ponto de temermos por seu colapso total", afirma o documento. "Certamente a bacia do rio Capivari, já fortemente enfraquecida pela ocupação antrópica de seu entorno, estará mais fragilizada e ameaçada pela quase inevitável extinção da sub-bacia."

"Por que fazer o licenciamento com uma velocidade tão grande a ponto de colocar em risco recursos ambientais prioritários, como os recursos hídricos? Fizeram correndo por causa da Copa, e mesmo assim o aeroporto não ficou pronto", diz Carlos Alexandre da Silva, presidente do Comdema.

"Não estamos contestando a licença ambiental, mas fazemos um acompanhamento rigoroso da obra. É um papel de controle, que inclui ajustes e cumprimentos das condicionantes ambientais."

LICENÇAS AMBIENTAIS

Em nota, a Cetesb informou que Viracopos possui licenças prévia, de instalação e operação da primeira fase de expansão do aeroporto internacional de Viracopos –que inclui novo terminal de passageiros, edifício-garagem e pátio de aeronaves e deveria ficar pronta em maio, mas só será finalizada em dezembro. Disse ainda que realiza visitas periódicas de acompanhamento das obras.

Para a segunda fase de ampliação, a Cetesb informou que a licença para instalação da segunda pista de pousos e decolagens foi solicitada pela concessionária em 5 de dezembro de 2013, e a licença prévia para desvio de uma estrada de ferro que passa pelo local, um mês antes. Ambos os pedidos se encontram em análise.

O início dessa segunda fase de ampliação depende da concessão das licenças e deve terminar no fim de 2017.

Sobre a denúncia do Comdema, a companhia diz que não tem conhecimento do relatório e, portanto, não pode responder sobre os problemas relatados.


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