Folha de S. Paulo


Aos 40, sistema Cantareira atende 7 milhões de pessoas a mais

Seria às 10h30 de um domingo, antevéspera do réveillon de 1974. O governador Laudo Natel acionou a operação do sistema Cantareira, que poria fim às torneiras secas de 1,2 milhão de pessoas na zona norte de São Paulo.

Veio a inauguração, mas não a água. Sem adequações na rede distribuidora, os primeiros 4,5 mil litros por segundo do novo sistema só chegariam à capital meses depois.

Em agosto, veio a "certidão de nascimento" –o governo federal autorizou que o incipiente Cantareira, com quatro reservatórios, expandisse sua capacidade a 33 mil litros de água limpa por segundo.

Atualmente, o sistema –responsável por abastecer 8,8 milhões de pessoas na Grande SP– passa pela maior crise de sua história, com cerca de 13% de sua capacidade. Nem sempre foi assim.

Editoria de Arte/Folhapress

"Exceto pelo de Chicago, nenhum outro sistema de abastecimento no mundo produzia tanta água potável", lembra João Antonio del Nero, diretor da firma de engenharia Figueiredo Ferraz.

Dirigida por docentes da USP e ímã de jovens talentos da Escola Politécnica, a empresa projetou o "pulmão" do Cantareira: a estação Guaraú, responsável por tratar a água de meia região metropolitana.

"Era um projeto super arrojado à época, feito por um grupo de 60 engenheiros de em média 30, 35 anos de idade", diz Nelson Zahr, que tinha 27 anos quando trabalhou na primeira das três etapas de construção do sistema.

"Para não ter capacidade ociosa, a produção aumentava conforme a demanda, junto ao crescimento demográfico", diz o engenheiro Mário Mori, também da Ferraz.

A última fase, finalizada em 1982, seria a mais extrema, com a dupla de barragens Jaguari-Jacareí, estoque de 82% da água do sistema.

"Parte da fazenda de nossa família em Bragança Paulista [interior de SP] foi alagada. Muitos funcionários nossos e pequenos produtores da região se mudaram", conta o artista Fabio Delduque.

Ele era adolescente quando viu surgir as represas, um mar de 2,3 mil km² entre 12 municípios de São Paulo e Minas. "De ameaça, o sistema virou uma bênção, com aquela vista azul", diz Delduque.

Agora, "o mar virou sertão", define o artista.

Luis Moura - 21.jul.14/Folhapress
Vista da represa Jaguari-Jacareí, a maior do sistema Cantareira, na cidade de Vargem (SP)
Vista da represa Jaguari-Jacareí, a maior do sistema Cantareira, na cidade de Vargem (SP)

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