Folha de S. Paulo


Tempo na cadeia foi um 'spazinho', 'férias forçadas', afirma manifestante

Após ficar 47 dias preso, o professor de inglês Rafael Lusvarghi, 26, passou o seu primeiro dia de liberdade em casa, no interior de São Paulo, onde conversou com amigos e postou fotos por meio de redes sociais.

À Folha, também via rede social, afirmou, ironicamente, que o período na carceragem do 8º DP (Brás/Belém) foi um "spazinho", algo como "férias forçadas".

Lusvarghi não é figurinha carimbada nos protestos -o primeiro em que esteve foi na abertura da Copa, no dia 12 de junho. Mas, rapidamente, ficou conhecido entre os ativistas, principalmente por seu currículo inusitado.

Avener Prado/Folhapress
Rafael Marques Lusvarghi é detido pela política por porte de artefato explosivo em ato anti-Copa, em SP
Rafael Marques Lusvarghi é detido pela política por porte de artefato explosivo em ato anti-Copa, em SP

Ex-policial militar em São Paulo, ele diz ter atuado nas Farc e na Legião Estrangeira (força armada francesa).

Ele foi preso no dia 23 de junho, em protesto na avenida Paulista. Lusvarghi disse se lembrar pouco desse dia, pois estava comemorando e bebeu "um pouquinho".

Na época, a Folha o presenciou bebendo um litro de vodca no gargalo.

Sobre a cadeia, disse que as refeições não foram um problema. "Não é algo que vou dizer 'nossa, que delícia de marmita'. Mas é bem melhor que uma ração de combate ou um rango improvisado no Arauca (Colômbia)."

O professor de inglês relatou que a convivência com outros presos não foi difícil. "Prisão é sem segredo. Respeite os outros que eles te respeitam", afirmou.

Ele disse que ainda se exercitou no período. "A gente improvisou uma academia. Eu me satisfaço com pouco."

Lusvarghi afirmou que não comentaria assuntos ligados ao processo a que responde, a pedido de sua defesa.

UCRÂNIA

Antes de ser preso no dia 23 de junho, ele disse à Folha que viajaria para a Ucrânia no dia 28 do mesmo mês para lutar pelas forças pró-Rússia. Ele diz que irá ao país o mais rápido possível.

"Eu gosto da [minha] família, mas eu quero é ir pra Ucrânia! Não aguento mais perder tempo... eles precisam de mim lá, e eu preciso me sentir útil e fazer o que sei fazer bem", afirmou.

Ele disse que é voluntário e fará a viagem por conta própria para "ingressar nas fileiras em Donetsk".

Afirmou que os separatistas estão esperando por ele na capital russa.

"Já tomei os puxões devidos de orelha, mas me parece que eles curtiram minha atitude. Lá eu descubro melhor os detalhes".

Sobre o estudante e funcionário da USP Fábio Hideki Harano, 27, preso e libertado no mesmo dia que ele, disse apenas que conversou brevemente com ele quando ainda estavam no Deic (departamento que investiga o crime organizado), antes de serem transferidos, mas que os separaram "rapidinho".

Hideki disse nesta sexta-feira, por meio de nota divulgada pelo Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), que está "aliviadíssimo" por estar em liberdade.

"O apoio que recebi foi, está sendo e será de enorme importância. Agradeço imensamente pela ajuda e pela solidariedade prestadas por muitíssimas pessoas, cujos nomes não caberiam, nem com letras bem pequenas, nesta nota."

Por fim, Hideki afirmou ter certeza da inocência dele e da "importância dessa e de tantas outras movimentações sociais".


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