Folha de S. Paulo


Polícia vai pedir prisão de quatro PMs envolvidos em mortes de pichadores

A Polícia Militar vai pedir à Justiça Militar a prisão temporária de quatro policiais militares envolvidos na morte de dois pichadores em um prédio da região da Mooca, na zona leste de São Paulo, na semana passada. O anúncio foi feito pela Corregedoria da PM na noite desta quarta-feira (6).

Os quatro policiais já estão detidos administrativamente na Corregedoria da corporação.

Segundo o tenente-coronel Marcelino Fernandes, chefe do Departamento Técnico da Corregedoria, houve "conduta irregular" e inconsistências na versão dos policiais, que demoraram para avisar a central da PM sobre o suposto confronto.

A Corregedoria ouviu também uma testemunha protegida que disse ter ouvido vários tiros em dois momentos diferentes, com intervalo de dez minutos –o que não consta do relato dos PMs, que alegam ter matado os pichadores porque eles reagiram à abordagem atirando.

Ainda segundo Fernandes, a Corregedoria obteve um vídeo que mostra a dupla pichando outro prédio próximo, momentos antes, aparentemente desarmada.

Os policiais suspeitos são o tenente Danilo Matsuoca, 28, o sargento Amilcezar Silva, 45, e os cabos Aldilson Segalla, 41, e André de Figueiredo Pereira, 35. Segundo a versão dos policiais, o sargento Amilcezar foi atingido de raspão no antebraço esquerdo durante a troca de tiros.

Além da investigação militar, os policiais respondem a inquérito civil no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).

A família de Alex Dalla Vecchia Costa, 32, depôs nesta quarta, no DHPP. A polícia já ouviu, na terça-feira (5), a mulher de Ailton dos Santos, 33. Ela negou que o rapaz tivesse armas e disse que ele era apenas pichador.

A diretora do DHPP, a delegada Elizabete Sato, falou nesta quarta sobre o que "chama a atenção" da Polícia Civil em relação a versão dos PMs: "são os horários que não batem, o fato de a mochila ter sido apresentada posteriormente, tudo isso estamos apurando".

Ela comentou também o fato de as armas terem demorado para serem apresentadas. "Temos percebido que nos casos de resistência [à ação da polícia] tem acontecido isso", afirmou.

Segundo a delegada, os depoimentos de amigos e parentes dos dois pichadores vão ajudar a traçar um perfil das vítimas.

Arquivo pessoal
Rapazes mortos em apartamento na zona leste de São Paulo; segundo amigos, a foto foi tirada no prédio do crime
Rapazes mortos em apartamento na Mooca; segundo amigos, a foto foi tirada no prédio do crime

VERSÕES

Na versão dos PMs que atenderam a ocorrência, os dois jovens invadiram o prédio para roubar e trocaram tiros com os policiais, momento em que foram atingidos.

O boletim de ocorrência registrado após o crime aponta que os dois entraram no prédio residencial, localizado na avenida Paes de Barros, por volta das 18h, após o porteiro confundi-los com moradores. O zelador teria flagrado a dupla no prédio e questionou a presença deles, que afirmaram estar fazendo a manutenção dos elevadores.

Desconfiado, o zelador desceu até a portaria, comunicou o porteiro e acionou a polícia. No local, os PMs dizem ter encontrado os dois dentro de um apartamento, sendo Alex na cozinha, com um revólver calibre 38, e Ailton em um quarto, com uma pistola 380. Os policiais dizem que apenas revidaram os tiros feitos pela dupla.

Amigos dos dois rapazes, porém, registraram em redes sociais mensagens apontando que eles deveriam estar no local para pichar. No Facebook, uma prima de Costa afirmou que o rapaz "nunca teve uma arma, nunca matou, nem feriu ninguém, todo mundo sabe e é evidente, que o que ele fazia era pichar".

A Folha conversou com amigos dos rapazes, que pertenciam a um grupo de pichadores chamado RGS. Eles disseram que, antes do episódio, os dois disseram que estavam indo pichar o prédio. "Ele me mandou mensagens no WhatsApp dizendo que ia pichar", disse um rapaz.

Após invadir o local, ambos tiraram fotos no elevador –prática comum entre pichadores.


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