Folha de S. Paulo


Promotoria do RS vai avaliar presença de chumbo em erva do chimarrão

O Ministério Público do Rio Grande do Sul abriu uma investigação para medir a quantidade de chumbo na produção local de erva-mate, usada para fazer o chimarrão.

Em maio, o Uruguai apreendeu 200 toneladas da erva produzida no Brasil por apresentarem níveis de chumbo e cádmio acima do permitido pela legislação daquele país.

O promotor de Justiça Paulo Estevam Araujo instaurou um inquérito civil para colher amostras da erva-mate brasileira. Segundo a Promotoria, a intenção é investigar não só a presença dos metais pesados mas também a adição de açúcar não identificada na embalagem dos produtos à venda no mercado.

Um grupo de trabalho foi montado com a Seapa (Secretaria Estadual da Agricultura), o Lacen (Laboratório Central do Estado) e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Os ministérios da Saúde e da Agricultura também serão convidados a participar.

O secretário-executivo do FundoMate (Fundo de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da erva no RS), Valdir Zonin, afirma que não há nada errado com a erva-mate brasileira. A questão, diz ele, é que a a legislação brasileira é diferente da uruguaia.

"O limite de cádmio e chumbo vem baixando cada vez mais na legislação do Uruguai. É apenas uma barreira comercial. Mujica [presidente do Uruguai] desde o ano passado está tentando reduzir o preço da erva-mate brasileira que vai para lá", afirma.

Ainda segundo o representante do FundoMate, estudos mostram que, depois da infusão da erva, a bebida não apresenta níveis desses metais acima do permitido pela lei. "Eles [o Uruguai] analisaram a erva pura, as folhas. Ninguém come erva-mate, ela é preparada [para ser tomada]", diz Zonin.

Pela lei brasileira, segundo Zonin, o limite máximo é de 0,6 mg/kg de chumbo e 0,4 mg/kg de cádmio.

Segundo o Ministério da Saúde do Uruguai, a erva-mate que entra no país deverá se adequar às exigências do Mercosul em um prazo de 180 dias contados a partir de 17 de junho de 2014. O regulamento técnico do bloco econômico segue a legislação brasileira.

ERVA-MATE MAIS CARA

Desde o ano passado, os gaúchos estão pagando mais pela erva de chimarrão. Em alguns locais, o valor dobrou.

Segundo Zonin, isso ocorre porque há dois ou três anos a erva-mate estava muito barata para o produtor, o que levou à destruição de 10 mil hectares. O resultado foi a falta da erva, que gerou um aumento de preço.

"Agora o valor do produtor já estabilizou, mas não reduziu [o preço] no supermercado porque as redes têm 80% a 100% de margem de lucro", afirma.

O chimarrão é considerado a bebida oficial do Rio Grande do Sul. É preparado através da infusão de erva-mate (Ilex paraguariensis) em água quente e consumido em cuias feitas de porongo e bomba, normalmente de prata.


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