Folha de S. Paulo


Polícia encontra terceiro adolescente do caso Sumaré e conclui investigação

A Divisão de Homicídios do Rio encontrou ao meio-dia desta quarta (23) o terceiro adolescente do caso Sumaré e encaminhou ofício à Justiça cancelando o depoimento dos dois policiais militares indiciados por homicídio, tentativa de homicídio e ocultação de cadáver que seriam ouvidos na próxima sexta-feira (25).

Titular da DH (Delegacia de Homicídios), o delegado Rivaldo Barbosa disse que o objetivo de ouvir novamente os policiais era para, por meio deles, obter informações que levassem ao paradeiro do terceiro adolescente. "Como o encontramos, não há necessidade de trazer os PMs aqui, novamente", disse.

Barbosa disse que o depoimento do garoto, que tem 16 anos, corrobora com os outros depoimentos (do adolescente sobrevivente e das demais testemunhas) e que o processo será anexado ao inquérito original e encaminhado à Justiça, à Corregedoria Geral e à Corregedoria da Polícia Militar.

O garoto está na DH, sob proteção da Polícia Civil, acompanhado da mãe, e será oferecido a ele e à família o programa de proteção a testemunhas. Barbosa disse que apesar de assustado, o rapaz seguia trabalhando normalmente como camelô no centro do Rio, em companhia da mãe.

O adolescente foi o terceiro a ser capturado e colocado na parte traseira da viatura policial, em 11 de junho, dia da ocorrência. Ele foi levado ao alto do Morro do Sumaré, na zona norte do Rio, e foi o primeiro a ser retirado do carro para ser executado.

"Ele conversou com os PMs, disse que era trabalhador, mostrou a chave do ponto comercial onde trabalhava e, além disso, citou uma pessoa em comum, sendo, por esses motivos, liberado pelos militares. Essa pessoa em comum não é agente de segurança e será chamada a depor apenas para esclarecer ainda mais o caso", disse Barbosa, sem dar mais detalhes.

Nesta terça (22) foram ouvidos na condição de testemunhas dois agentes da Guarda Municipal que, no dia do ocorrido, renderam o terceiro jovem a pedido do policial militar que estava com o adolescente que foi baleado, mas sobreviveu, sob a mira de sua arma, no centro do Rio, após persegui-lo.

O delegado afirmou que o depoimento destes guardas municipais também foi essencial para desvendar o caso. As imagens da câmera de segurança da viatura, segundo Barbosa, ajudaram a compreender a dinâmica da ocorrência e ajudar na identificação de uma terceira vítima que, até então, era desconhecida.

Sobre o adolescente liberado pelos PMs, Barbosa acrescentou que o rapaz, ao ser solto, ainda ouviou os tiros disparados contra os dois jovens que ficaram em poder dos militares.

O delegado complementou que o inquérito contra os PMs já foi concluído e encaminhado à Justiça, e que os demais procedimentos feitos pela DH foram exclusivamente para encontrar o terceiro garoto do caso. Agora, as informações serão encaminhadas às autoridades, para servir de informações complementares a respeito do caso, segundo o delegado.

RELEMBRE O CASO

Quando foi apreendido por dois policiais militares em uma rua do centro do Rio, na manhã de 11 de junho, o adolescente M., 15, foi colocado em um carro da polícia e levado para um matagal no alto morro do Sumaré, próximo à casa do cardeal d. Orani Tempesta, arcebispo da cidade.

Ali, ele e Mateus Alves dos Santos, 14, que também havia sido apreendido, foram baleados quatro vezes pelos policiais. M. foi o primeiro alvejado, levando um tiro de fuzil pelas costas e outro, de pistola, na perna direita.

"Ele [PM] me chutou, mas não me mexi, fingi de morto", relatou o jovem à Folha.

"Depois, puxaram o outro garoto de dentro do carro. Quando me viu, se desesperou e começou a gritar, mas tomou dois tiros e caiu em cima de mim, morto", disse. Os dois se conheciam apenas de vista.

Assim que os policiais se afastaram, M. saiu de baixo do corpo de Mateus, levantou-se e amarrou um casaco na perna, atravessada pela bala. O tiro de fuzil também cruzou seu corpo, deixando um furo pelas costas.

O adolescente saiu de dentro da mata e começou a descer a ladeira do Sumaré; no caminho, procurou auxílio em três estabelecimentos, mas não o ajudaram. "Disseram que não poderia ficar ali, porque a polícia voltaria." Os comerciantes também deram a entender que a região é ponto de desova (ocultação de cadáveres).

Em busca de socorro, M. caminhou até o morro do Turano, na zona norte. Um menino o levou a uma igreja, onde limparam seus ferimentos e ligaram para sua família. Seu pai o buscou no pé do morro e o levou ao hospital municipal Souza Aguiar.


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