Folha de S. Paulo


Pacientes e parentes são barrados no portão da Santa Casa; veja vídeo

Sem saber das interrupção dos atendimentos de urgência e emergência, algumas pessoas procuraram ajuda médica na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, na noite desta terça-feira (22), e encontraram os portões de entrada fechados.

A instituição é o maior hospital filantrópico da América Latina, e informou que o motivo é a falta de recursos para comprar medicamentos e materiais como seringas e agulhas. Em nota, a assessoria de imprensa da Santa Casa disse que está tentando reverter a situação.

A reportagem esteve no hospital na noite desta terça e viu algumas pessoas a espera de atendimento. Apenas um caso de urgência, porém, foi atendido após o fechamento dos portões.

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"Abre o portão aí, pelo amor de Deus", gritou um taxista ao ver a entrada da Santa Casa trancada. O segurança respondeu "tá fechado, tá fechado", mas Alguém deu um sinal e os portões foram abertos para a entrada do veículo. "É um AVC. Ele vai morrer aqui no meu carro", insistiu o taxista.

Marlene Bergamo/Folhapress
Portões da Santa Casa fechados após a instituição anunciar a interrupção dos atendimentos de urgência
Portões da Santa Casa fechados após a instituição anunciar a interrupção dos atendimentos de urgência

Até policiais foram barrados pelos seguranças. "Você não vai deixar a polícia entrar?", perguntou um PM em um carro policial, antes de dar a volta e ir embora.

"Mas para onde as pessoas vão agora?", perguntava o estudante Luiz Henrique Lima, 11, ao segurança, diante da placa com os dizeres "Pronto Socorro fechado. A Santa Casa lamenta o fechamento do PS por falta de condições de atendimento".

"Tem uma mulher quase cega aqui na frente", gritou o menino. Era a prima dele, a balconista Alice dos Santos Silva, 22, com os olhos vermelhos escondidos por óculos escuros.

Antes de chegar à Santa Casa, ela tinha procurado um ambulatório no Bom Retiro. "Já é o segundo lugar que procuro", lamentou ela, reclamando de ardência nos olhos.

Dentro do prédio, médicos lamentavam o que definiam como "uma tragédia anunciada".

"Não podemos deixar a Santa Casa fechar", dizia a agente comunitária de saúde Secunda Lima Rocha de Andrade, 52, que acompanhava o irmão Manoel Rocha, 63, a vítima de AVC no táxi. Ela disse que o irmão foi bem atendido. "Ele estava morrendo."

Quem chegou antes das 18h foi atendido. Foi o caso do motorista Osvaldo Gonzalez, 76, que acompanhava a mulher, com uma ferida na perna. Ele disse que chegou meia hora antes do fechamento –depois de passar por outras duas unidades de saúde.

Marlene Bergamo/Folhapress
Portões da Santa Casa de São Paulo fechados após a instituição anunciar a interrupção dos atendimentos de urgência e emergência
Portões da Santa Casa fechados após a instituição anunciar a interrupção dos atendimentos de urgência

ATENDIMENTOS

De acordo com o provedor do hospital, Kalil Rocha Abdalla, a Santa Casa tem uma dívida de R$ 50 milhões com fornecedores que se negam a entregar novas encomendas enquanto o valor não for pago.

"Não temos dinheiro para remédio, onde preciso comprar 100, só consigo 50. Além do pronto-socorro, temos 700 leitos e não temos condições de atendê-los bem, como sempre fizemos", afirmou.

Segundo ele, o problema ocorre há anos porque a tabela do SUS (Sistema Único de Saúde) para repasses está desatualizada.

"O governo perdoou nossas dívidas, mas os fornecedores não. Atendemos quase 10 mil pessoas por dia e já comunicamos para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e para o resgate para que evitem trazer mais pacientes para cá", disse Abdalla.

O Ministério da Saúde afirmou que "recebeu com preocupação a informação do fechamento do pronto-socorro da Santa Casa e que a medida unilateral não foi previamente comunicada ao ministério".

A pasta disse ainda que "entrou em contato com a secretaria Estadual de Saúde, gestora do contrato com a Santa Casa, para conhecer as providencias que serão adotadas e contribuir na solução da situação.

Ainda de acordo com o ministério, "os valores repassados para a Santa Casa não se restringem ao pagamento de procedimentos da tabela do SUS". "Dos R$ 303 milhões previstos para 2014, a Santa Casa receberá 49,7% em repasse por procedimentos (tabela SUS) e 50,3% em incentivos", informou em nota.

O governo de SP afirmou que tem auxiliado sistematicamente as Santas Casas e hospitais filantrópicos com recursos extras. "Apenas para a Santa Casa de SP serão encaminhados R$ 168 milhões em recursos extras do tesouro estadual neste ano, totalizando R$ 345 milhões em dois anos."

Procurada, a Secretaria Municipal da Saúde disse em nota que "não é a gestora do convênio (...) mas entrou em contato com a direção da instituição e se colocou à disposição para fornecer os medicamentos e materiais médico-hospitalares necessários para que o serviço não pare de funcionar".

Editoria de arte/Folhapress

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