Folha de S. Paulo


Economia de água do Cantareira cresce, mas 14% elevam consumo

Embora a maioria da população esteja economizando água, a parcela de consumidores atendidos pelo sistema Cantareira e que aumentaram seu consumo subiu de 10% para 14% entre maio e junho.

Na prática, significa que, em meio à crise histórica de abastecimento em São Paulo, 1,2 milhão de moradores tiveram no mês passado gastos de água acima do histórico deles em 12 meses.

Por outro lado, a fatia da população que está poupando água contribuiu para que em junho houvesse uma economia geral de 2.778 litros por segundo tirados do Cantareira, maior número desde março.

A Sabesp (empresa estadual de saneamento) não soube, no entanto, dizer as causas da alta no mês passado na proporção dos que estão gastando mais água -algo que é motivo de alerta diante da escassez de
chuva.

Esse contingente de 14% dos consumidores seria afetado pela sobretaxa de 30% na conta de água que a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) pretendia implantar para quem elevasse seu consumo em relação à média de fevereiro de 2013 a janeiro de 2014.

Na semana passada, Alckmin, candidato à reeleição, anunciou a desistência da sobretaxa, com a justificativa de que a população aderiu ao uso racional da água.

Editoria de Arte/Folhapress

86% POUPAM

De fato, a grande parcela das pessoas abastecidas pelo Cantareira reduziu seu consumo em relação ao histórico de 12 meses: em junho, eram 86% do total. Mas esse percentual já havia sido maior -90%, em maio.

Segundo especialistas e técnicos da própria Sabesp, não é comum haver aumento de gasto de água em junho -mês típico de frio. O clima no mês passado, porém, foi mais seco do que normalmente, fator que pode
influenciar na alta do consumo.

Em junho deste ano, também subiu de 48% para 54% a proporção dos que pouparam quantidade suficiente para ter desconto na conta.

Anunciado em fevereiro, esse plano de bônus prevê desconto de 30% para quem economizar 20% na conta em relação à média mensal de consumo do ano passado.

Dentro da estatal, a avaliação é que os consumidores precisam continuar a poupar água em razão do cenário de inverno, período mais seco.

As chuvas da semana passada, por exemplo, não tiveram impacto significativo sobre as represas. O temor de técnicos da estatal é que as pessoas, em razão das chuvas, possam querer poupar menos água, por
achar que a situação está normalizando.

O Cantareira operava nesta terça-feira (15) com 18% da capacidade. Nessa conta está incluída a água do "volume morto", do fundo das represas, abaixo do nível de captação das comportas.

No mês passado, houve críticas na Sabesp ao fato de as campanhas por economia de água terem sua visibilidade reduzida durante a Copa.

Professor de gestão ambiental da USP (Universidade de São Paulo), Pedro Luiz Côrtes diz que no inverno, historicamente, há um consumo de água menor porque, entre outras razões, as pessoas tomam menos
banho em consequência do frio.

Mas ele avalia a possibilidade de a Copa do Mundo ter influenciado no aumento de 10% para 14%, de maio para junho, no índice dos que estão gastando mais água.

Ele afirma que, por ter monopolizado a cobertura de TV, rádio e jornais, a Copa pode ter dado a impressão de que as condições dos reservatórios melhoraram, quando isso não aconteceu.


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