Moradores de bairros residenciais de São Paulo veem no debate da futura lei de zoneamento uma oportunidade para barrar prédios em ruas hoje tranquilas, arborizadas e repletas de casas.
O Plano Diretor aprovado no último dia 30 prevê a construção de prédios perto de eixos de transporte público. Grupos de moradores, no entanto, querem que a lei de zoneamento deixe longe de seus bairros arranha-céus e baladas barulhentas.
A Vila Madalena é um das áreas que deverá ser afetada pelo estímulo à verticalização perto de estações de metrô. "Se encher de prédio, pode mudar a característica do bairro, que tem casinhas, ateliês, restaurantes, teatros, bons cafés", diz o presidente da Sociedade Amigos da Vila Madalena, Cassio Calazans.
Os moradores do Brooklin (zona sul) também pretendem lutar para manter a região com residências e árvores. "As praças e o verde beneficiam o ar da cidade", diz a presidente da Associação de Amigos do Brooklin Novo, Cibele Sampaio.
A urbanista Lucila Lacreta afirma que a verticalização na cidade ao longo dos últimos anos é responsável pela queda na qualidade de vida.
"Tem que se exigir estudos de impacto ambiental e urbanístico em relação à verticalização prevista no Plano Diretor. Não foi proposto aumento no transporte que viabilize uma demanda tão grande", afirma Lucila.
Já o urbanista Renato Cymbalista diz que há espaço para adensamento mesmo nos chamados bairros estritamente residenciais, como Jardins, Pacaembu e Brooklin.
"No Pacaembu há casas de 400 m² que não estão sendo utilizadas. Para o próprio uso residencial, elas poderiam ser subdivididas, [bastaria] pegar a mesma casa e fazer reformas internas. Assim, teria quatro casas de 100 m²", diz. "Na Europa isso foi feito".
Nos Jardins (zona sul), o medo é de bares e baladas. "O que preocupa é que os usos comerciais sejam flexibilizados e degradem as zonas residenciais", afirma o diretor da associação Ame Jardins, João Maradei Jr.
O vereador Nabil Bonduki (PT) diz que a habitação deve ser outro ponto de tensão na discussão. A aprovação do Plano Diretor foi marcada por pressão de sem-teto.
Em Paraisópolis (zona sul), o presidente da associação de moradores Gilson Rodrigues diz que 4.000 pessoas dependem de bolsa aluguel. "Nossa demanda vai ser moradia."
Em relação ao meio ambiente, o secretário de Desenvolvimento Urbano, Fernando de Mello Franco afirma que será uma chance de incentivar pontos como telhados verdes, e energia solar. (AR)