Folha de S. Paulo


Thereza de Oliveira da Silva (1946-2014) - A 'noiva do subúrbio' e as poesias

Ao reler "Crônica para Thereza", escrita há 50 anos, Thereza Oliveira da Silva ainda reagia com emoção às palavras de Paulo Mendes Campos.

"Eu largava tudo, tudo para ler Paulo Mendes Campos. Tudo o que estivesse com o nome dele, eu queria", disse ela, aos 68 anos, em depoimento publicado há pouco mais de um mês no site do Instituto Moreira Salles, responsável pelo acervo do autor.

Aos 18, Thereza levava uma vida simples na Vila da Penha, subúrbio carioca. Estava noiva e sonhava com uma festa de casamento. Seria uma situação corriqueira não fosse por um detalhe: a moça era apaixonada por literatura e tinha em Mendes Campos seu autor favorito.

Naquela época, a revista "Cláudia", da editora Abril, tinha uma seção que buscava realizar sonhos de leitoras. Thereza enviou uma carta com seu pedido: queria uma festa completa, "com garçons uniformizados" para atender aos convidados.

Como presente, pedia um discurso de Paulo Mendes Campos durante a recepção.

Os editores decidiram atender à leitora, ideia aprovada também pelo escritor, que redigiu a crônica e compareceu ao casamento da noiva do subúrbio do Rio.

"Desejo, Thereza, que você conserve para sempre o dom desse milagre de descobrir a cada instante que viver é de graça, que o sonho é de graça, que nenhum dinheiro do mundo pode comprar este generoso sentimento do milagre que é viver, sonhar...", escreveu o poeta.

Thereza sofreu um infarto e morreu na terça (8) em um hospital da zona sul, onde estava internada desde a semana passada. Deixa três filhos.

coluna.obituario@uol.com.br


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