Folha de S. Paulo


Delegado confirma participação de PMs na morte de jovem no Rio

O delegado titular da DH (Delegacia de Homicídios) do Rio, Rivaldo Barbosa, disse na manhã desta segunda-feira (7) que "não há dúvidas quanto ao envolvimento direto dos dois policiais militares" no caso dos menores que foram apreendidos no centro da cidade e levados para o alto do morro do Sumaré, onde foram baleados e um deles morreu.

Os PMs envolvidos no caso, que teve reconstituição na manhã desta segunda, estão presos desde 11 de maio.

Segundo Barbosa, um dos PMs confessou ter apreendido os adolescentes e disse que o objetivo era dar um "corretivo neles no alto do Sumaré". O policial, no entanto, nega ter assassinado um deles e ter tentado executar o outro.

Já o segundo PM preso por envolvimento no caso afirmou que só falará em juízo, segundo o delegado, que participou da reconstituição do crime. "Para o Tribunal do Júri, quanto maior o número de provas, maior a probabilidade de condenação deles", disse Barbosa.

Participam da simulação Tyago Virgínio dos Santos, 33, pai de Mateus Alves dos Santos, 14, o menor que foi assassinado, e M., 15, o sobrevivente, que está acompanhado de uma tia não biológica e do advogado Fabio
Conti.

RELEMBRE O CASO

Mateus e M. foram apreendidos por dois policiais militares em uma rua do centro do Rio, na manhã do último dia 11, colocados em um carro da polícia e levados para um matagal no morro do Sumaré, próximo à casa do cardeal d. Orani Tempesta, arcebispo do Rio.

Ali, os dois foram baleados quatro vezes pelos policiais. M. foi o primeiro alvejado, levando um tiro de fuzil pelas costas e outro, de pistola, na perna direita.

"Ele [PM] me chutou, mas não me mexi, fingi de morto", relatou o jovem à Folha.

"Depois, puxaram o outro garoto de dentro do carro. Quando me viu, se desesperou e começou a gritar, mas tomou dois tiros e caiu em cima de mim, morto", disse. Os dois se conheciam apenas de vista.

Assim que os policiais se afastaram, M. saiu de baixo do corpo de Mateus, levantou-se e amarrou um casaco na perna, atravessada pela bala. O tiro de fuzil também cruzou seu corpo, deixando um furo pelas costas.

O adolescente saiu de dentro da mata e começou a descer a ladeira do Sumaré; no caminho, procurou auxílio em três estabelecimentos, mas não o ajudaram. "Disseram que não poderia ficar ali, porque a polícia voltaria." Os comerciantes também deram a entender que a região é ponto de desova (ocultação de cadáveres).

Em busca de socorro, M. caminhou até o morro do Turano, na zona norte. Um menino o levou a uma igreja, onde limparam seus ferimentos e ligaram para sua família. Seu pai o buscou no pé do morro e o levou ao hospital municipal Souza Aguiar.

De volta à sua casa, utilizou o Facebook para informar a outros garotos da comunidade o que havia acontecido, e recebeu a informação de que um adolescente da Maré estava sumido. Um dos internautas entrou em contato com uma tia de Mateus, Aline dos Santos, que foi à casa de M. e ouviu o relato do sobrevivente no sábado (14). Acompanhada de seu marido e de mais um tio do jovem assassinado, procurou a Delegacia de Homicídios na segunda-feira (16).

Encontraram o corpo de Mateus no Sumaré no mesmo dia. O pai do garoto o identificou no local. "Mesmo que ele tivesse feito algo errado, deveria ter sido levado à DPCA [Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente]", disse o pai, Tyago Virgínio dos Santos, auxiliar de obras.

Suspeitos do crime, os cabos Fábio Magalhães Ferreira, 35, e Vinícius Lima Vieira, 32, foram presos e ficarão ao menos 30 dias em uma unidade prisional da PM, à disposição da Justiça. A corporação não informou se eles já têm advogado.

M., que parou de estudar ao completar a sexta série no ano passado, disse à Folha que estava "dando um rolê", quando foi apreendido. Contou que ele e Mateus estavam tranquilos até chegar ao Sumaré. "Ali vimos que iam fazer maldade", disse.


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