Folha de S. Paulo


Motoristas decidem voltar ao trabalho e pedem intermediação de Haddad

Os motoristas e cobradores de ônibus de São Paulo afirmaram na noite desta quarta-feira (21) que voltarão ao trabalho à 0h de quinta-feira (22). Uma reunião entre o Ministério do Trabalho, sindicato e trabalhadores dissidentes também decidiu pedir intermédio do prefeito Fernando Haddad (PT) nas negociações. O grupo deve se reunir na sede da prefeitura às 10h.

"Nunca vi uma radicalidade tão grande por parte das empresas. Os empresários estão intransigentes e não aceitam reabrir negociações. Por isso, decidiram pedir a intervenção do prefeito para que ele ajude a pressionar as empresas a reabrir as negociações", afirmou o superintendente regional do trabalho em São Paulo, Luiz Antonio Medeiros.

As empresas não concordam em reabrir a negociação, uma vez que houve uma assembleia na última segunda-feira em que um grupo de trabalhadores aprovou o aumento de 10%. "Se não houve cooperação, vamos parar a cidade de novo", afirmou Paulo Martins Santos, representante dos grevistas da empresa Gato Preto.

Apesar do anúncio de reunião com Haddad, a Prefeitura de São Paulo afirmou na noite desta quarta que ainda não tinha recebido nenhum pedido de encontro. O prefeito já divulgou a agenda de quinta-feira com outros compromissos durante o período da manhã.

O TRT (Tribunal Regional do Trabalho) concedeu uma liminar ao sindicato que representa as empresas exigindo que os grevistas mantenham em operação 75% das linhas de São Paulo a partir da 0h de quinta-feira. A liminar também determina uma multa pelo descumprimento, com o valor ainda a ser determinado.

O advogado do sindicato patronal, Antônio Roberto Pavani Júnior, não soube informar contra quem essa multa seria aplicada. O sindicato também entrou com uma ação no TRT para considerar a greve ilegal, o que poderia abrir a possibilidade das empresas demitir os grevistas por justa causa.

HADDAD

Haddad deu uma coletiva na noite desta quarta e afirmou que a Prefeitura de São Paulo já notificou o sindicato dos motoristas e cobradores de ônibus e o sindicado das empresas para que cumpram o que está previsto no contrário, ou seja, a oferta dos serviços.

Caso não seja cumprido o previsto em contrato, a prefeitura afirmou que adotará tanto medidas cíveis como penais "visando a responsabilização pessoal dos diretores" dos sindicatos.

O secretário Tatto também participou da coletiva e disse: "não vamos aceitar chantagem e sabotagem. Vamos fazer de tudo para que os serviços sejam oferecidos. Se estamos fazendo nossa parte, compete a eles [sindicatos] fazer a parte deles".

Tatto disse também que a paralisação afetou entre 700 e 800 coletivos que deveriam ter circulado pela cidade. Ele também afirmou que o número de pessoas afetadas pode ter chegado a 1 milhão.

PARALISAÇÃO

Esse foi o segundo dia seguido em que motoristas e cobradores de ônibus de São Paulo fizeram uma paralisação. Nesta quarta-feira, cinco das nove empresas que atendem a cidade estão fechadas. Além disso, nove dos 28 terminais estão parados. O rodízio de veículos foi suspenso na tarde desta quarta e as multas aplicadas na manhã serão abonadas.

Com a paralisação, a capital paulista registrou na terça-feira (20) a maior lentidão desde o início do ano, com 261 km de filas. Nesta quarta, o trânsito está dentro da média do horário, mas a SPTrans aponta em torno de 300 mil pessoas afetadas pela falta de coletivos.

Houve registro de coletivos abordados por homens armados nesta quinta-feira. Segundo o secretário Jilmar Tatto (Transporte), criminosos mandaram que motorista e passageiros descessem do veículo.

Os dissidentes negaram que tenham qualquer ligação com a chapa que faz oposição ao atual presidente do sindicato. E dizem não concordar com o reajuste negociado entre sindicato e empresas de ônibus, de 10%. Entre as reivindicações do grupo grevista estão 30% de reajuste salarial, aumento no vale-refeição e mudança no plano de saúde.

"A maioria dos que estão reivindicando levantou a bandeira do sindicato atual, mas não está contente com o que foi decidido por ele", afirmou o motorista Luiz Pereira Lima, da empresa Simbaíba.


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