Folha de S. Paulo


Motoristas e cobradores de ônibus mantêm paralisação em São Paulo

Em mais um dia de protesto por reajuste salarial e melhores condições de trabalho, motoristas e cobradores de ônibus de quatro das nove empresas que operam em São Paulo resolveram manter os veículos nas garagens nesta quarta-feira, segundo informações da SPTrans (empresa gestora do transporte municipal).

Na zona sul da capital, oito ônibus que não foram recolhidos às garagens entre a noite de terça-feira e madrugada desta quarta foram usados para bloquear a avenida Guarapiranga.

De acordo com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), o bloqueio teve início às 4h e terminou por volta das 6h.

Uma reunião entre representantes da categoria e a prefeitura está marcada para as 10h.

A CET informou que ainda não está definido se haverá suspensão do rodízio de veículos nesta quarta.

Com a paralisação de ontem, estações de metrô e trem ficaram lotadas e o trânsito na cidade bateu o recorde do ano, chegando a 261 km.

Para impedir a saída de ônibus, os manifestantes chegaram a esvaziar pneus e retirar as chaves dos coletivos. O prefeito Fernando Haddad comparou a ação do grupo a uma guerrilha. "É uma guerrilha inadmissível. Como você entra no ônibus e manda passageiro descer?", afirmou ele ontem, em entrevista à TV Bandeirantes.

LAPA

Nas primeiras horas da manhã, o único terminal que permanecia bloqueado em São Paulo era o Lapa, onde ao menos 120 ônibus de várias empresas estão enfileirados.

Essa quantidade de veículos é suficiente para transportar cerca de 40 mil pessoas por dia, segundo disseram motoristas e cobradores que estão no terminal. Eles prometem manter o bloqueio até uma definição sobre o reajuste.

"Queremos melhores condições salariais, cestas básicas, um plano de saúde decente para podermos fazer nossas atividades da melhor forma possível. Do jeito que está, não dá", disse o motorista Eduardo Dias, 43.

Dias é um dos cerca de 50 rodoviários que passaram a madrugada desta quarta-feira no terminal, entre bate-papo com colegas e cochilos dentro dos veículos.

E assim como eles, usuários do transporte também tiveram de passar a noite no terminal.

"Para vir do trabalho para o terminal pego um ônibus; como não tinha, vim a pé. Nem adiantou vir", disse a auxiliar de cozinha Eliane Pain, 37, que estava com a colega Terezinha Maria, de mesma idade. Elas moram em Perus.

"O bom é que pelos menos nesta quarta-feira vamos estar de folga e podemos descansar. Se os ônibus não rodarem, vou ver se vou para casa de trem", disse Terezinha.

AO RELENTO

No terminal desde às 23h30 de terça-feira, Cássia Gomes, 30, e a amiga Matilde Dias, 60, disseram que era a primeira vez que iam "dormir ao relento".

"É um absurdo a gente ter de passar por uma situação dessa, com frio e fome", reclamou Cássia, cujo ombro servia de encosto para Matilde.

O protesto dos rodoviários está sendo realizado por um grupo dissidente do sindicato da categoria que não concorda com o acordo salarial fechado com as empresas de ônibus.

A proposta acordada com as companhias prevê um reajuste salarial de 10%, além de aumento nos valores do vale-refeição e na participação nos lucros. O grupo dissidente afirma que o aumento real proposto no salário foi de 2,4%.

Atualmente, o piso salarial de motoristas é de R$ 1.955, e o de cobradores, R$ 1.130. A proposta de reajuste salarial foi aprovada pela categoria em assembleia nesta segunda-feira (19).

Os manifestantes pedem reajuste de pelo menos 33%, vale refeição de R$ 22 - atualmente o valor é de R$ 15,30 - e melhorias na cesta básica e plano de saúde da categoria.


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