Folha de S. Paulo


Moradores da região reclamam de xixi na rua durante Parada Gay

Moradores da região da rua da Consolação reclamam que algumas pessoas que acompanham a Parada Gay têm optado por fazer xixi na rua ao invés de usar os banheiros químicos espalhados pelo percurso do desfile. Alguns já usavam creolina nas calçadas antes mesmo do fim do evento.

"Estamos passando por falta de água e o pessoal urina na rua, sendo que tem banheiro químico", reclama o zelador Biro, 34, que já jogava produtos de limpeza na rua Dona Antonia de Queiroz. Até a banca de jornal em frente ao prédio precisou de um limpeza por conta do cheiro forte.

Moradores observavam o movimento no local, por volta das 17h, e chegaram a pedir que as pessoas não urinassem diante do prédio. "Se a gente pede para eles não fazerem isso, o pessoal ainda quer briga. Acabamos de ser xingados por três rapazes", afirmou o estudante de direito Luiz Lacerda, 41.

No mesmo horário, porém, os banheiros químicos colocados na rua da Consolação tinham movimento tranquilo, sem filas.

PÚBLICO

Assim como em outros anos, o evento atrai de famílias a baladeiros, passando por pastores e celebridades.

Moradora da região há cinco anos, a doméstica Iracema Neris dos Santos, 57, decidiu ir ao evento pela primeira vez. No final da tarde, ela observava o movimento da via que desemboca na praça Roosevelt ao lado dos filhos Alexandro, 9, e Amanda, 14.

"Antes de virmos, falei para eles [os filhos] que ia ter homem com homem e mulher com mulher", disse. "Estou gostando, no ano que vem vou voltar."

Vizinha de Iracema, a cabeleireira Maria do Amparo, 53, elogiava o clima. "Esse ano o pessoal está mais comportado. Já vi até gente transando na rua em outros anos", lembra.

"É legal andar de mão dada, mas tem que saber se comportar como casal, porque aqui tem famílias e crianças", diz a mulher, que afirma frequentar o evento há cinco anos.

DESFILE

O desfile começou próximo do meio-dia, na avenida Paulista, seguindo pela Consolação. Na abertura, militantes cobraram das autoridades a aprovação de leis contra a homofobia e a favor dos direitos de transexuais. A ministra Ideli Salvatti (Direitos Humanos), o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Fernando Haddad (PT) estavam presentes.

O presidente da APOGLBT (Associação da Parada do Orgulho GLBT), Fernando Quaresma, reclamou publicamente da anexação do projeto de lei 122/06, que criminaliza a homofobia, ao projeto de reforma do Código Penal, que ainda não tem data para ser analisado. A medida foi aprovada no Senado, em dezembro de 2013.

"Por que o PL foi arquivado e agora temos que esperar a redação do novo Código Penal? Os parlamentares que decidiram isso estão com as mãos cobertas de sangue dos LGBT [lésbicas, gays, bissexuais e transexuais]", afirmou.

Quaresma citou levantamento do GGB (Grupo Gay da Bahia) que aponta que 310 homossexuais e travestis foram assassinados em 2013 e defendeu a aprovação da lei de Identidade de Gênero, conhecida como João Nery, em homenagem ao primeiro transexual do Brasil.


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