Folha de S. Paulo


Senador irmão de Tião Viana diz que é 'vergonha' SP não assumir haitianos

O senador Jorge Viana (PT-AC) saiu nesta segunda-feira em defesa do irmão, o governador do Acre, Tião Viana (PT), na polêmica sobre o envio de imigrantes haitianos para São Paulo. O senador disse ser uma "vergonha" para o governo de São Paulo não assumir o problema da chegada haitianos no Estado, responsabilizando o governo do Acre pelo envio dos imigrantes.

Viana disse que a secretária de Justiça de São Paulo, Eloisa Arruda, deve um "pedido de desculpas" ao governo do Acre por ter acusado seu irmão de agir como "coiote" de haitianos.

"Coiote são os criminosos que exploram os haitianos entre o Haiti até chegar ao Acre. Chega um imigrante sem documento, que está passando fome, e você não dá de comer? Está querendo um abrigo, e você não dá o abrigo? No Acre, a gente sempre aprendeu a fazer isso. Em São Paulo, quem está cuidando dos haitianos é a igreja. É uma vergonha o governo de São Paulo não ter coragem de assumir um problema tão pequeno como esse", atacou o senador.

Jorge Viana disse que o governo de São Paulo não tem como prática barrar a entrada de migrantes de outros Estados brasileiros, como o Ceará, mas agora decidiu combater a ida de imigrantes do Haiti. Em tom de ironia, o senador disse que o governo de SP deve ficar "tranquilo" porque poucos haitianos que chegam a Basileia (AC) demonstram vontade de morar no Estado.

"Eles estão sendo muito bem recebidos nos sul do país. Dos 20 mil que passaram pelo Acre, mais de 10 mil foram para os Estados do sul e estão lá trabalhando. Eles estão vindo do Haiti por conta de uma tragédia humana que o Haiti vive há muito tempo. E os países ricos, os poderosos deste mundo tampam os ouvidos e fecham os olhos."

O senador disse que há mais de três anos o Acre enfrenta a questão dos imigrantes haitianos e não tem poderes para barrar sua entrada no país –nem a ida para outros Estados– depois que o governo brasileiro liberou a concessão de vistos para o país da América Central.

"O artigo 5º da Constituição garante para qualquer cidadão, inclusive estrangeiro que esteja dentro do território, um livre ir e vir. Mas parece que, para São Paulo, não pode ir, tem que avisar antes, tem que pedir licença antes. Querer simplificar, dizendo que o governo, pura e simplesmente, está colocando as pessoas no ônibus e mandando-as embora é tratar com a inverdade, com a mentira."

O senador Aníbal Diniz (PT-AC) disse que o diretório do PT no Acre divulgou nota de solidariedade à atuação de Tião Viana no caso dos haitianos. Segundo o petista, o trabalho do governador em defesa dos imigrantes não pode ser "desmerecido" por nenhuma "atitude preconceituosa".

"Se, hoje, um grupo de haitianos tem, a partir da sua passagem pelo Acre, se destinado a São Paulo, certamente é porque está nos seus sonhos chegar a São Paulo e a outras cidades e regiões do país em busca de um lugar para trabalhar, em busca de realizar os seus sonhos", afirmou.

POLÊMICA

A polêmica sobre a ida de imigrantes do Haiti para São Paulo teve início depois que Eloisa Arruda chamou de "irresponsável" a ação do governo do Acre de enviar imigrantes sem aviso prévio ao Estado. Segundo Eloisa, São Paulo vai continuar a acolher todos os haitianos que chegarem, mas ela quer ser avisada oficialmente antes.

Tião Viana rebateu dizendo que a "elite paulistana" é "higienista" por não querer que o Acre envie haitianos para o Sudeste.

Em meio à troca de farpas, o governo do Acre manteve o envio dos imigrantes. As passagens, segundo a administração acriana, estão sendo pagas pelo Ministério de Desenvolvimento Social. O governo diz que envia apenas aqueles imigrantes que desejam viver em São Paulo, numa prática que é comum a outros Estados.

Até o final da semana passada, 176 imigrantes saíram do Acre rumo a São Paulo, segundo o governo daquele Estado.

É quase três vezes mais do que a quantidade de haitianos que a capital paulista recebeu por mês nos últimos três anos. Desde 2011, 2.000 chegaram a São Paulo . No último mês, 500 chegaram à cidade vindos do Acre.


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