Folha de S. Paulo


Crimes violentos caem, mas tráfico continua após UPPs

A instalação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) nas favelas do Rio de Janeiro levou a uma brusca queda na ocorrência de crimes violentos, reduziu os roubos, mas não freou a comercialização de drogas.

As conclusões são de um estudo recente dos economistas Claudio Ferraz e Bruno Ottoni, da PUC-Rio.

As ocupações, que tiveram início no fim de 2008, reduziram em 64% os crimes que resultam em mortes violentas dentro das favelas ocupadas.

Também houve recuo de 29% nesse tipo de ocorrência nas vizinhanças de 18 comunidades onde foram instaladas UPPs até 2012.

As apreensões de criminosos e drogas pela polícia aumentaram significativamente. Dentro das favelas, essas ações passaram de uma média mensal de, respectivamente, 0,9 e 1,5 antes de 2009 para 2,49 e 4,15 depois.

Essas tendências não foram acompanhadas, porém, de mudança significativa no tráfico de drogas, que continuou ocorrendo em ritmo parecido ao verificado antes das UPPs.

Os resultados se baseiam em boletins de ocorrência referentes a delitos ocorridos nas favelas e nos bairros onde as comunidades estão localizadas, entre 2005 e 2012. Os autores também analisaram números do Disque Denúncia.

"As informações desses três bancos de dados são complementares e apontaram as mesmas tendências", afirma Ferraz.

Por meio de técnicas estatísticas, os autores isolaram os efeitos causados exclusivamente pelas ocupações sobre as ocorrências de crimes. Fatores que podem ter influenciado as tendências de criminalidade foram descontados dos números.

Para conseguir isso, compararam os dados de 2005 até 2012 das favelas que receberam UPPs com as estatísticas de comunidades ainda não pacificadas no período.

EFEITOS

Segundo os pesquisadores, a política de pacificação das favelas consegue atingir seu principal objetivo, que é o combate aos grupos armados.

A consequência disso é a queda dos crimes violentos que resultam em morte e, portanto, trazem maiores prejuízos à sociedade e à economia.

Ferraz aponta, no entanto, a necessidade da adoção de outras políticas para reduzir, por exemplo, o tráfico de drogas nas favelas ocupadas.

Ele cita a importância de melhorar o acesso dos jovens das favelas à educação de qualidade. Isso reduziria a atratividade do tráfico como ocupação para os adolescentes.

"A pacificação é importante, mas seus efeitos positivos podem ser revertidos se não for adotado um projeto mais amplo para levar o Estado até essas comunidades".

Para ele, os problemas ocorridos em meses recentes -como ataques a algumas UPPs- são um indício de que os chefes do tráfico estão tentando "retomar o território".

Esse retorno, diz, pode acabar ocorrendo se a maior confiança da população das favelas na polícia após as ocupações for corroída por falta de medidas que melhorem suas condições de vida.

Na semana passada, moradores do Pavão-Pavãozinho, ocupado desde 2009, pediram o fim da UPP na favela em um protesto contra a morte do dançarino Douglas Pereira, o DG, cujo corpo foi encontrado baleado no morro. A polícia investiga se PMs têm participação no crime.


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