Folha de S. Paulo


Adolescente é apreendido em tumulto após enterro de dançarino no Rio

O protesto liderado por moradores da comunidade do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, na zona sul do Rio, terminou com um adolescente apreendido na tarde desta quinta-feira. Segundo a Polícia Militar, ele teria jogado pedras nos policiais e foi encaminhado à 13ª DP, em Copacabana.

Um grupo de pessoas que participou do enterro do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, 26, o DG, no cemitério São João Batista, em Botafogo, percorreu as ruas Siqueira Campos, Barata Ribeiro, Santa Clara e a avenida Nossa Senhora de Copacabana após a cerimônia.

DG foi encontrado morto no início da semana após um tiroteio na comunidade Pavão-Pavãozinho. Ele foi atingido por um tiro e o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, afirmou não descartar a participação de PMs na morte. A mãe do rapaz diz que ele foi torturado.

Após o enterro, já na avenida Nossa Senhora de Copacabana, uma das principais do bairro, a manifestação progrediu na contramão ao trânsito. O grupo levava faixas e entoava bordões contra as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). Nos cálculos da PM, 300 pessoas participaram da passeata.

No caminho, observados de perto por mais de cem policiais militares do Batalhão de Choque e de outros grupamentos da zona sul, os manifestantes danificaram algumas lixeiras. Alguns comerciantes se sentiram intimidados e, temendo saques, fecharam as portas das lojas ao longo o trajeto da passeata.

O deslocamento do grupo demorou ao todo 48 minutos entre o cemitério e a chegada até a rua Sá Ferreira, um dos acessos à favela do Pavão-Pavãozinho. No local, houve um confronto entre os manifestantes e a polícia, que resultou a apreensão do adolescente.

Participantes do protesto saíram em defesa do garoto e um PM jogou spray de pimenta para conter a revolta. Para completar a dispersão, os policiais jogaram bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo em plena Nossa Senhora de Copacabana, a uma quadra da orla marítima.

O gás assustou os pedestres que passavam pelo local. Com a ajuda de um porteiro, mais de uma dezena de pessoas que passavam se refugiaram em um edifício, para se proteger dos efeitos do produto. Idosos se esconderam atrás de um banca de jornal e os próprios policiais, sem máscaras de proteção, sofreram com o gás utilizado.

Depois da dispersão do protesto, os moradores do Pavão-Pavãozinho começaram a subir a ladeira Saint Roman, que liga o bairro à favela. Alguns metros acima, eles começaram a danificar lixeiras em um entreposto da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana).

Para conter os mais exaltados, o policiamento de Choque subiu na comunidade e seguiu disparando bombas de efeito moral.

Outro grupo de policiais se dirigiu de motocicleta até o túnel Sá Freire Alvim, alguns metros adiante, para reprimir manifestantes que, do alto, começaram a jogar pedras sobre os carros que passavam pela rua Raul Pompeia, que liga Copacabana ao Arpoador e a Ipanema.

A avenida Nossa Senhora de Copacabana seguiu fechada por 40 minutos após o confronto, sendo liberada para o tráfego por volta de 17h20. Comerciantes das quadras próximas à Sá Ferreira resolveram encerrar o expediente mais cedo, com medo de saques e depredações. O policiamento deverá seguir reforçado durante a noite desta quinta-feira.

ENTERRO

O corpo do dançarino foi enterrado ao som de funks. DG era dançarino do programa "Esquenta", da TV Globo, e integrante do grupo Bonde da Madrugada.

A apresentadora Regina Casé foi ao enterro e falou que DG era "excelente profissional, alegre, as crianças amavam". "Se fosse uma pessoa que eu nunca vi na vida, que eu não conhecesse, eu ficaria chocada de qualquer maneira com a forma brutal como foi morto", disse Casé, emocionada.

O enterro foi marcado também por protestos e faixas dos moradores contra a ação policial. A morte dele já havia causado uma série de protestos na noite da última terça-feira (22), que resultaram na morte de um outro rapaz.

O laudo da polícia aponta que DG tinha 'perfuração de arma de fogo'. O secretário de segurança pública, José Mariano Beltrame, afirmou que esse tiro teria matado o dançarino e não descartou a participação de PMs da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do morro Pavão-Pavãozinho, onde aconteceu o crime.

A mãe de DG, Maria de Fátima, diz acreditar que ele foi torturado antes de morrer. Durante o enterro do rapaz, ela afirmou que vai recorrer à ONG Anistia Internacional para "levantar a bandeira dos direitos humanos no Brasil e pedir justiça por meu filho".


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