Folha de S. Paulo


Dançarino morto no Rio fez filme onde seu personagem era morto por PMs

O dançarino encontrado morto em uma creche na favela Pavão-Pavãozinho foi protagonista de um curta-metragem em que seu personagem é executado por policiais na mesma comunidade.

O curta "Made in Brazil" tem 6min49s de duração e foi dirigido e produzido por Wanderson Chan, 29. O personagem de Douglas Rafael da Silva Pereira é chamado, na produção, como DG, mesmo apelido que ele tinha na vida real.

A história começa com uma partida de futebol nas areias da praia de Copacabana, em que ele termina comemorando um gol. Muitas vezes, a câmera está em primeira pessoa, mostrando as cenas sob a ótica de DG.

Após a partida de futebol, o personagem é filmado subindo a mesma rua onde se localiza a creche em que seu corpo foi encontrado, cumprimentando moradores e comerciantes. Ao fim do curta, ele é abordado por dois policiais, que lhe apontam armas e o agridem. Um deles termina atirando em DG, em seu corpo fica no chão, em uma viela.

O curta foi lançado junho de 2013, pela produtora Contra a Parede, fundada por Chan há 4 anos.

Chan disse ter conhecido DG assim que sua produtora foi convidada a enviar um curta-metragem para o festival Tropfest em Nova York, em maio de 2013.

"Decidi que faria uma história contando nossos problemas sociais em paralelo com a euforia da Copa. Antes de começar a procurar um ator, fui apresentado a DG. Ele tinha muita vida, muita energia, era engraçado e muito querido pela favela. Decidi na hora que seria ele".

A filmagem levou três dias. Segundo Chan, os rapazes que aparecem na partida de futebol são todos amigos de DG. Ninguém cobrou cachê. A produção custou R$ 750. O produtor disse que o curta chegou a ser pré-selecionado, mas acabou não escolhido para ser exibido no festival.

Chan disse que conversou pela última vez com DG no dia 3 de abril. Os dois planejavam filmar um clipe para uma música composta pelo dançarino -que tinha uma banda- e um longa, em que o rapaz não seria protagonista, "mas teria papel importante".

"Eu também queria voltar a visitar o Pavão-Pavãozinho", disse Chan, que mora em Casimiro de Abreu. "Soube da morte dele ontem à noite, e até agora não consigo acreditar".

A apresentadora Regina Casé divulgou nota ontem sobre a morte do dançarino do Esquenta!.

"Eu estou arrasada e toda a família Esquenta está devastada com essa notícia terrível. Uma tristeza imensa me provoca a morte do DG, um garoto alegre, esforçado, com vontade imensa de crescer. O que dizer num momento desses? Lamentar, claro, essa violência toda que só produz tragédias assim. Que só leva insegurança às populações mais pobres do país. Agora, é impossível saber exatamente o que houve. Mas é preciso que a Polícia esclareça essa morte, ouvindo todos, buscando a verdade. A verdade, seja ela qual for, não porá fim à tristeza. Mas é o único consolo".

A equipe do programa "Esquenta!" também lamentou a morte de DG, antes de Regina Casé ter sido comunicada.

"A família Esquenta! está profundamente abalada e triste com a notícia da morte do Douglas Rafael da Silva Pereira, nosso querido DG. Perdemos um dos mais criativos dançarinos que já conhecemos em qualquer palco. Desde a primeira temporada do nosso programa, há quatro anos, DG só alegrava nossas gravações. Ele vai sempre ser lembrado em nossas vidas por estas duas palavras: alegria e criatividade".

Reprodução/Facebook
Dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, conhecido como DG; morte provocou protestos em comunidade no Rio
Dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, conhecido como DG; morte provocou protestos em comunidade no Rio

O curta "Made in Brazil" pode ser visto abaixo:

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