Folha de S. Paulo


Sem-teto levam Arquidiocese do Rio a cancelar 'Paixão de Cristo'

A ocupação da entrada da Catedral Metropolitana do Rio por manifestantes sem-teto levou a Arquidiocese da cidade a fechar a igreja e cancelar a encenação da Paixão de Cristo, tradicionalmente realizada na Sexta-Feira Santa há 45 anos.

O cardeal-arcebispo D. Orani Tempesta faria a celebração às 15h. Em seguida, aconteceria uma procissão na Lapa, no entorno da igreja.

Durante todo o dia, a Catedral permaneceu fechada e só abriu as portas para a passagem de padres e atores da encenação. Muitos fiéis buscavam informações na entrada da igreja, mas não havia nenhum representante.

Por meio de nota em seu site, a Arquidiocese do Rio informou que alguns representantes ligados ao arcebispo D.Orani se ofereceram para "mediar uma solução, ainda que parcial".

O professor de história Miguel Arcanjo dos Santos, 56, chegou por volta das 18h e ficou decepcionado. "Só sei que eles fecharam em razão de segurança porque ficaram com medo de ocuparem o interior da igreja. Participo dessa celebração há 10 anos e nunca tivemos isso. Até a procissão foi cancelada!", lamentou.

A maior parte dos menos de 100 manifestantes que estavam no local tinha participado da ocupação do terreno da Oi, há três semanas, no Engenho Novo, zona norte carioca. Havia também ativistas conhecidos como Elisa Quadros, a Sininho, apontada como uma das lideres de protestos de junho no Rio.

Na semana passada, os sem-teto acamparam próximo à Prefeitura do Rio, mas na madrugada de sexta-feira (18), foram retirados e acabaram se deslocando para o entorno da Catedral.

Entre os ocupantes havia pelo menos cinco crianças, uma com apenas dois meses de idade.

Segundo a nota da arquidiocese, os manifestantes chegaram a concordar em receber "atendimento provisório dos efetivamente necessitados, em local do poder público, com apoio da igreja e serviços sociais".

No entanto, segue o texto, o grupo de sem-teto voltou atrás na decisão. "Após ouvir assessorias, os necessitados retrocederam. A Arquidiocese do Rio lamenta que existam pessoas que ainda sofram em virtude da ausência de moradias e sejam manipuladas por outros interesses".

No início da noite de ontem, o comandante do 5º Batalhão da Polícia Militar (Praça da Harmonia), major Luiz Segala, se reuniu com representantes da arquidiocese na Catedral. Na saída, ele disse apenas que não havia planos de desocupação.


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