Folha de S. Paulo


Salvador tem saques e mortes na segunda noite após greve da PM

As ruas esvaziadas pela greve da Polícia Militar da Bahia não impediram que a violência avançasse na região metropolitana de Salvador na segunda noite após o início da paralisação.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública, houve ao menos quatro saques e nove homicídios na região das 19h de quarta-feira (16) até o início da madrugada desta quinta-feira (17).

Os homicídios foram registrados em bairros da periferia de Salvador, como Fazenda Grande do Retiro e Valéria, e em cidades da região metropolitana, como Lauro de Freitas e Camaçari.

Já os saques se concentraram na região de Brotas, área de classe média de Salvador. Supermercados foram os principais alvos. A secretaria não dispunha, até a publicação desta reportagem, de informações sobre itens roubados ou eventuais prisões relacionadas a esses saques.

Os números da criminalidade na atual greve sugerem aumento da violência após o começo do movimento. Na terça e quarta da semana passada (8 e 9), a Grande Salvador registrou cinco homicídios e 15 roubos ou furtos de carros, segundo os dados oficiais publicados pela pasta da segurança.

Já desde o início da greve, aproximadamente após as 18h de terça-feira (15), a mesma Grande Salvador já soma 18 homicídios (se somados os últimos casos) e 38 furtos ou roubos de veículos.

Ou seja, em relação ao mesmo período na semana passada, anterior à greve, houve um aumento de 80% nos homicídios (sem incluir os últimos nove casos) e de 153% nos furtos e roubos de carros.

O número de homicídios pode ser muito maior, já que há discrepâncias entre números da Secretaria de Segurança –divulgados acima– e os da Delegacia de Homicídios de Salvador, que recebe casos em primeira mão. Na delegacia, a informação era que houve ao menos 30 homicídios apenas em Salvador das 7h de quarta-feira (16) à 1h30 desta quinta-feira (17).

No Hospital Geral do Estado, maior hospital público da Bahia, localizado na capital, até por volta das 2h30 desta quinta-feira (17) o posto da Polícia Civil registrava a entrada de pelo menos 30 feridos em situações de violência –22 por disparos de armas de fogo, dois por facadas e seis por lesão corporal. Uma pessoa chegou morta -não se sabe se está incluída no balanço parcial de nove homicídios divulgado no começo da madrugada.

GREVE

A paralisação da PM foi deflagrada na noite de terça-feira (15), após impasse em negociações com o governo. A categoria reivindica aumentos em gratificações, garantias de progressão de carreira e sanções mais brandas no novo código de ética da corporação, entre outros pontos.

A gestão Jaques Wagner (PT) aceitou incorporar algumas reivindicações, como a aposentadoria aos 25 anos de serviço para mulheres policiais e a separação da PM do Corpo de Bombeiros. Mas anunciou na noite desta quarta que não tem como bancar os aumentos nas gratificações.

A paralisação provocou transtornos em Salvador na quarta-feira. Houve casos de saques, fechamento de comércio, suspensão de aulas e escassez de ônibus nas ruas. O policiamento, reduzido, foi feito principalmente por batalhões de elite da PM, como o de choque. Ao menos 26 pessoas foram presas por suspeita de participação em saques ou arrastões.

Um dos líderes do movimento grevista é o soldado Marco Prisco, vereador em Salvador pelo PSDB. O policial ganhou visibilidade no Estado após ser o porta-voz na greve anterior da categoria, em 2012, que durou 12 dias e terminou com PMs ocupando por dias a Assembleia Legislativa do Estado.

Pré-candidato a deputado estadual, Prisco foi alvo de duras críticas naquela greve após a divulgação de gravações em que supostamente combinava bloqueio de rodovias e ataques a quarteis. Ele sempre negou qualquer crime e afirma que apenas atuava na mobilização da categoria.


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