Folha de S. Paulo


Moradores retirados de terreno da Oi acampam em frente à Prefeitura do Rio

Em protesto à desocupação de um terreno da Oi, que terminou em violência na manhã de sexta-feira (11), um grupo de cerca de cem pessoas passou a noite em frente à sede da Prefeitura do Rio. Os manifestantes disseram na manhã deste sábado que só vão sair do local quando tiverem uma solução definitiva para a falta de moradia.

O grupo dormiu sobre pedaços de papelão, ou sentados em cadeiras de praia sob uma lona improvisada, doada por moradores da região. Eles também receberam doações de comida e água.

"Depois que os leões tiraram a gente da jaula, a gente veio para cá. Se fosse uma retirada pacífica, a gente negociaria, mas como chegaram agredindo, viemos para cá. Só vamos sair quando tivermos uma solução de moradia. Agora, sou vizinho do [prefeito] Eduardo Paes", disse Ed dos Santos, um dos líderes do grupo. Entre os manifestantes, estão famílias inteiras, com crianças e um grávida com nove meses de gestação.

Apesar do desconforto –a única comodidade do grupo era assistir a uma TV ligada à rede de luz–, a Juliana de Oliveira, 18, dona do aparelho, diz que vai ficar morava com a avó na Mangueira até o último domingo, quando foi para o terreno desocupado na sexta-feira. "Ficamos mais tempo acordados do que dormindo, mas vou ficar, apesar da dificuldade."

A ação policial para remover os ocupantes de uma área da empresa de telefonia Oi no Engenho Novo, zona norte do Rio, terminou em um conflito que se espalhou por várias ruas do bairro na manhã de sexta-feira. Carros, ônibus e caminhões foram incendiados, três agências bancárias foram depredadas e dois supermercados, saqueados.

Ao menos 20 pessoas ficaram feridas, entre elas três crianças e nove PMs. Cerca de 30 pessoas foram detidas –21 delas participavam do saque a um supermercado. A operação para retirar os cerca de 5.000 invasores, na estimativa da polícia, começou por volta das 4h, quando cerca de 1.650 policiais militares entraram no terreno. O efetivo foi maior do que o empregado há duas semanas, quando cerca de 1.300 policiais iniciaram a ocupação do complexo da Maré.

INFLAÇÃO

Boa parte dos que estão em frente à prefeitura pagavam aluguel em favelas com UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), principalmente Manguinhos e Jacaré. Eles afirmam que a ocupação policial provocou uma inflação nos preços dos imóveis. Também contribui com a alta nos preços o aluguel social de R$ 450 pagos pelo Estado e prefeitura a famílias removidas de áreas de risco.

"Hoje qualquer quitinete custa R$ 400. Há dois anos era R$ 250 e dava para pagar. Ocupamos [o terreno da Oi] para termos a nossa moradia", disse Andreia Ventura Fiel, 39, que dividia um barraco de um quarto com a irmã e dez crianças em Manguinhos.

Com 50 mil metros quadrados, o terreno da Oi tem três prédios, que estavam desocupados. Há cerca de duas semanas começou a receber invasores. Em todos os andares, inclusive na cobertura, foram construídos barracos.

A prefeitura afirmou que ofereceu abrigo aos manifestantes, mas muitos não aceitaram. Ed dos Santos, um dos líderes da ocupação, disse que "os agentes ofereceram abrigo para morador de rua". "Nós queremos uma casa."


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