Folha de S. Paulo


'Teleférico da fé' gera disputa em Aparecida

Na cidade símbolo dos católicos, uma obra que irá aproximar moradores e turistas do céu está no centro de uma polêmica.

De um lado, alguns moradores de Aparecida (a 180 km de São Paulo). De outro, a prefeitura e o Santuário Nacional, esse último agora sob a cobrança do Ministério Público.

O "bondinho da padroeira", como já é chamada a obra da igreja, terá pouco mais de 1 km de extensão, entre a Basílica de Nossa Senhora e morro do Cruzeiro, local de peregrinação de fiéis.

Moradores, porém, reclamam que o teleférico danificou casas e criará uma série de constrangimentos quando inaugurado, como passar por cima de casas com piscina e até de um cemitério.

A obra deve ficar pronta antes da Copa, de olho nos turistas que circularão entre São Paulo e Rio de carro. Serão 47 bondes num vaivém que passará até sobre a rodovia Presidente Dutra.

Sete torres sustentam os cabos do teleférico. Uma delas foi parar a um metro de um dos banheiros da publicitária Helenice Cézar, 43, que não está feliz com a revoada de visitantes.

"É um sentimento de desrespeito e de invasão. De sentir que não nos avisaram antes. Perdemos nossa privacidade e segurança", afirma a publicitária, que promete levar a reclamação até o papa Francisco, caso necessário.

A Congregação do Santíssimo Redentor, a responsável pelo Santuário Nacional de Aparecida, diz que obteve autorização para construir o teleférico, mas, diante das reclamações, a Promotoria pediu esclarecimentos à igreja.

DISTRAÇÃO

O bondinho é o primeiro do país com aval da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) para cruzar uma rodovia federal –fato que a Polícia Rodoviária Federal não achou nada divertido.

Segundo a concessionária da via, cerca de 50 mil veículos passam por dia no trecho da Dutra em Aparecida.

"Os cabos vão passar no trecho de curva da Dutra que registra metade dos acidentes sob nossa jurisdição. A preocupação é que os bondinhos tirem a atenção dos motoristas", disse Angelo Marion, inspetor da polícia.

Uma torre de 30 metros foi instalada no meio do principal cemitério da cidade. "Fiquei horrorizado. Tinha que colocar [a torre] lá dentro do cemitério?", disse o vendedor José da Silva, 59.

"Fiquei sabendo quando o chão já estava furado. O povo deveria saber, porque temos entes queridos enterrados ali", afirmou o aposentado Lúcio Pedrine, 69.

Já Maria Borges, 77, ficou feliz com a novidade. "Esse bondinho foi a melhor coisa que fizeram. Vai dar um movimento bom aqui", diz a moradora, que é vizinha do cemitério.
diálogo

O prefeito Márcio Siqueira (PSDB) disse que autorizou a obra sem realizar audiências públicas –como determina lei municipal– porque a Câmara é o local adequado para esse tipo de debate. "A Câmara discutiu o assunto em muitas sessões", afirma Siqueira.

editoria de arte/folhapress

Polo do turismo religioso no país, Aparecida atrai 11 milhões de turistas por ano, segundo a prefeitura.

O "bondinho da padroeira" será administrado por uma empresa privada pelos próximos 15 anos. O valor do ingresso não foi definido.

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